A casa no meio do bairro Estádio poderia ser apenas uma moradia comum, mas não é. É nela que mora uma senhora inspiradora: Maria Aparecida Siqueira, de 95 anos completados neste domingo (20).
Dona Maria tem gosto pela leitura e pela história em papel, mais precisamente, as páginas do Jornal Cidade. Os fatos que marcaram Rio Claro e região estão em seu arquivo pessoal e na sua memória.
Há mais de 40 anos, junto com seu cafezinho de todas as manhãs, o hábito de folhear as páginas do JC faz parte de sua rotina antes agitada, e agora mais tranquila. Dona Maria não tem pressa de mais nada. Inclusive, fez este repórter que ama história sentar com ela no sofá e ficar por mais de duas horas escutando seus causos. O que não foi nenhum sacrifício, e sim um privilégio.
“Muita reportagem me marcou. Todas são bem escritas e o jornal é muito completo. São coisas que me interessam”, comentou ela. Corinthiana roxa, respondeu que não perde nenhuma matéria do editor de esportes, Léo Bauer. “O texto dele me agrada. Há sempre uma verdade no que ele escreve. Uma verdade cheia de sentimentos. Eu acredito na palavra dele”, contou.
Nascida em Rio Claro, dona Maria vive hoje uma vida sossegada e feliz, embora tenha passado por momentos de provação, como ela mesmo citou. “Muita dificuldade, prova, luta, mas Deus me ajudou. Ele me deu a mão. O que me marcou muito foi a morte de meu filho. Eu não consigo esquecer ele”, recorda ela sem nenhuma dificuldade e com os olhos cheios de lágrimas, referindo-se a Paulo Siqueira, falecido aos 65 anos, por conta de um câncer.
Retomando o entusiasmo, a simpática senhora contou que sua casa foi uma das primeiras a ser construída no bairro e que na época, por volta de 1952, o terreno era muito barato, pois o então prefeito queria que aumentasse logo a região. “Da 29 para frente era só mato”, descreveu.
Dona Maria teve uma carreira profissional marcante. Cabeleireira de mão cheia, iniciou a carreira dentro de um salão, mas como faxineira. E se orgulha dessa trajetória.
“Entrei para varrer o salão e lá eu aprendi a cortar, a pintar, a fazer penteados. Depois, comecei a trabalhar em casa nas horas vagas. Tudo o que aprendia no salão fazia aqui um pouco mais barato. Foi assim que fui conquistando minha freguesia. Foram 40 anos nessa vida”, explicou.
A senhora fez um pedido ao prefeito Gustavo Perissinotto. “Prefeito Gustavo, por favor, eu queria que voltasse a festinha na praça [Jardim Público]. Os idosos gostavam muito. Dançavam, brincavam. Olha, prefeito. Faça voltar essa festinha tão gostosa de todo domingo”, completou ela, com um sorriso enorme no rosto.
Segredos para uma vida longa, com autonomia
Para dona Maria, o segredo de uma vida longeva e plena parece ser manter-se, além de bem informada, também em constante atividade. Na idade em que está, limpa ela mesma a casa, inclusive capricha lavando o banheiro. Cozinha diariamente, faz crochê e conta que tem muita, mas muita fé em Deus.
“Agradeço a Deus pela minha vida todos os dias. É ele minha fortaleza. O meu refúgio. Foram tantas lutas, batalhas e provações e minha fé sempre permaneceu intacta”.
Outra motivação para manter-se conectada ao mundo é acompanhar seu time do coração, o Corinthians. Torcedora roxa, vibra com as vitórias do Timão e compartilha todos os momentos possíveis com a grande família que construiu, com quatro filhos, seis netos e três bisnetos.
“Enquanto Deus me permitir, quero viver mais. E muito mais. 100 anos é pouco. Quero mesmo é chegar aos 200 assim, feliz e contente”, finalizou.