Antonio Archangelo
Retornando à Secretaria Municipal de Segurança e Defesa Civil, o delegado e professor da Academia de Polícia, José Gustavo Viégas Carneiro (PV) conversou com a reportagem do Jornal Cidade sobre o novo período comandando a pasta.
JORNAL CIDADE – Mesmo não estando na secretaria nos últimos anos, o senhor continuou a estudar o tema Segurança Pública, tendo uma tese de doutorado premiada. É uma necessidade este contínuo aprimoramento?
DR. GUSTAVO – Este é o papel fundamental, inclusive é um papel da Guarda Civil hoje, com a nova lei federal, o Estatuto Geral das Guardas cobra que a Guarda tenha uma participação mais dinâmica, mais interativa, que tenha um setor de inteligência e saiba compreender este papel. Recentemente estive em Parati vendo as palestras dos escritores e uma coisa que me chamou a atenção foi uma geógrafa que pensava a cidade sob um viés feminino. É uma questão que me passou a minha atenção e vou estudar esta questão, pois uma cidade pensada pelas mulheres é mais inclusiva do que a pensada pelos homens.
JC – Falando na questão da mulher, os índices criminais divulgados, em relação a Rio Claro, apontam para o aumento dos casos de estupro registrados pela polícia. Falta uma rede de apoio a estas mulheres, já que, paralelamente, existe uma luta para reativar a Delegacia da Mulher no município?
VIÉGAS – Entendo que as políticas das mulheres devem ser incentivadas cada vez mais. Acho que a sociedade ainda é extremamente machista. E a mulher ainda é tratada como uma Amélia, além de tudo como um produto. Quando você vê uma campanha publicitária, você infelizmente vê isso, um produto de consumo mesmo, o que é lamentável. Agora, acho que um fator decisivo é a questão da Delegacia de Apoio à Mulher. Muitos casos de estupro nem chegam à polícia por esta dificuldade de acesso. Existe até uma subnotificação. As obras da Delegacia da Mulher estão em fase adiantada e tão logo será inaugurada.
JC – Em relação aos outros tipos de crime, qual vem sendo o papel da Guarda?
VIÉGAS – Entendo que a Polícia Militar e Polícia Civil fazem um bom trabalho em Rio Claro. A Guarda Civil vem trabalhando, em caráter colaborativo, com estas forças policiais. E neste sentido a Guarda vem sempre sendo solicitada. Mas entendo que o papel da Guarda deve ser de policiamento de proximidade, descentralizado, mais próxima da população. Vejo aquele projeto, que iniciamos no passado das bases comunitárias, deve ser retomadas. Este é o papel da Guarda. Percebo, mesmo ainda fazendo um diagnóstico, vejo que a atividade-fim – já que a Guarda, dentro da administração pública, é uma das carreiras mais bem remuneradas atualmente. A Guarda Civil Municipal de Rio Claro é uma das mais bem remuneradas do Estado de São Paulo. Os rendimentos se aproximam aos dos escrivães e investigadores de Polícia. Então a Guarda deve ser cobrada. Ela recebe muito bem, tem uma aposentadoria especial, e agora está na hora do guarda dar uma contribuição maior à população de Rio Claro. Sendo assim, tem que se ocupar em funções-fim, e menos em cargos burocráticos. Então estamos lá, tomando pé da situação. Estou pedindo apoio das demais secretarias, principalmente a de Administração, que forneça servidores administrativos para desonerar a Guarda para ir à atividade-fim. Este é um dos desafios da nova gestão.
JC – A população cobra esta proximidade e a ocupação destas bases comunitárias?
VIÉGAS – É uma cobrança positiva. A população está reconhecendo o papel da Guarda. Lá no Jardim São Paulo, a população fez um investimento e está na razão de cobrar o retorno. Agora, como isso vai ser feito é problema nosso. Como vamos operacionalizá-la. Desde quando assumi, incentivei que o guarda voltasse a estudar, e boa parte já tem nível universitário. Por outro lado, muitos migram para outras carreiras e, com isso, reduziu-se nosso quadro. O problema será amenizado com a desoneração administrativa.
Confira no player abaixo o áudio da entrevista na íntegra.