Um Fusca azul Niágara de 1972 ficou por 30 anos na família Trevisan. Foi com esse carro que José Carlos Trevisan Filho, de 40 anos, e suas irmãs aprenderam a dirigir. “Eram outras épocas. Meu pai me ensinou a dirigir com 11 anos”, conta o empresário. Depois que aprendeu, ele sempre dirigia pela vila perto de sua casa em Cordeirópolis.
O Fusca era uma paixão de seu José Carlos Trevisan, mecânico aposentado, de 69 anos. No entanto, contou ao JC que não foi possível mantê-lo na família e, há dez anos, precisou vender o veículo. Na verdade, chegou a vender por três vezes, até que na quarta, o besouro teve sua casa definida.
“Na primeira venda eu tive um problema financeiro para quitar minha casinha. Mas deixei claro para o comprador que, se um dia fosse vender, ele me procuraria. Não deu outra. Peguei de volta”, explica.
Na segunda tentativa seu Zé disse que repassou o veículo para um caminhoneiro, que não tinha intenção de deixá-lo no estado. Mas, quis o destino, que o rapaz comprasse um barzinho na esquina de sua casa. “Parece brincadeira, né? Mas todo dia eu olhava para ele [o Fusca] e pensava: ‘acho que vou ter que comprar de novo’. Mas não deu tempo”.
Um certo dia, o caminhoneiro vendeu o veículo para um investigador da cidade de Limeira e pensou que agora não iria ver mais o fusquinha. Que nada. Engano seu! “Acredita que esse cara veio morar em frente da minha casa? Aí, por fim, meses se passaram e eu bati lá, perguntando sobre o carro. Me respondeu que acabou deixando num estacionamento em Limeira”.
Seu Zé ficou anos procurando o azulzinho e não achava. Até que comentou com o filho. O que ele não imaginava é que teria o Fusquinha novamente. E, desta vez, parece que para a vida toda.
“Como meu pai ainda possuía o número do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), ele foi até um despachante amigo da família pra tentar descobrir quem era o novo proprietário”, conta o filho.
Após ter o nome em mãos, o filho assumiu o controle do ‘resgate’ e começou a fazer tudo escondido do pai. Foi pelas redes sociais que conseguiu encontrar o então proprietário do carro.
Porém, um problema surgiu no meio do caminho: o dono estava morando em outro estado, no Paraná. “Levei um susto ao saber que ele estava tão longe daqui, mas pra minha sorte o carro estava em Limeira com o primo dele”, explica Trevisan.
O desafio, ao invés de ficar mais fácil, tornava-se ainda mais complexo. Isso porque o tal primo estava arrumando a parte mecânica do Fusca e não tinha planos de vendê-lo. Só concordou quando o rapaz contou a saga envolvendo o pai e sua história de amor pelo carro.
Surpresa para seu herói
Após a compra, Trevisan levou o carro a um mecânico para fazer uma revisão automotiva completa e deixou o Fusca brilhando. Reuniu toda a família em um churrasco e chegou de surpresa com um besouro azul.
“Nesse carro está, entre tantas coisas, o valor da família, das histórias contidas nele. Não o valor material, mas o valor daquilo que não tem preço”, relata Trevisan.
Em vídeo publicado nas redes sociais, registrou o momento da entrega do carro ao pai, que estava cheio de emoção. Nele, é possível ver que seu pai fica admirado com o veículo que estava impecável. “Foi uma festa a hora que ele viu o fusca, ele se emocionou bastante. Até minha mãe acabou chorando”, conta.
O raio que caiu muitas vezes no mesmo lugar
Enquanto José Carlos Trevisan Filho estava na busca pelo carro que era de seu pai, ele encontrou uma rifa na internet de um Fusca azul Niágara, exatamente a mesma cor do carro de seu pai.
Aí o mais imponderável aconteceu. Após entregar o carro da saga de seu pai, totalmente reformado, no dia 13 de fevereiro deste ano, a surpresa foi para si próprio: em 16 de março, Trevisan recebeu uma ligação do Clube Rifa, informando que era o grande ganhador do ‘clone’.
“Eu fui para São Paulo buscar o outro fusca. E agora meu pai e eu temos o mesmo tipo de carro”, conta. A diferença entre eles está no ano. O do pai é de 1972, enquanto que o ganho na rifa é de 1975. Dois fuscas que parecem ter tido seus destinos traçados – a família Trevisan.