Ednéia Silva
Com o dólar ultrapassando a barreira dos R$ 4,00, o brasileiro já começa a sentir no bolso a alta da moeda americana. Isso porque muitas matérias-primas são importadas, como farinha de trigo, gás e gasolina. Isso provoca um aumento dos produtos derivados, como pães e massas, já que quase metade do trigo consumido no País é importada. Segundo a FecomércioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), o pão francês acumula alta de 7,81% em 12 meses até agosto.
Além disso, alguns produtos feitos no Brasil têm seu seu preço atrelado ao dólar e também sofrem a influência da moeda americana. É o caso da soja, da carne, do café, do açúcar, do milho. A produção é nacional, mas, com o dólar em alta, os produtores preferem exportar a mercadoria para conseguir preços melhores. Com a oferta menor no mercado interno, os preços sobem.
A Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), comenta que as sucessivas altas do dólar vêm pressionando os índices de preços há algum tempo. Segundo a entidade, entre agosto e setembro, o dólar subiu 10%, causando aumento de 1,19% no preço dos cosméticos.
No entanto, os alimentos são os produtos mais afetados pelo dólar. De acordo com a FGV, o preço do pãozinho francês subiu 1,71% nas últimas quatro semanas. Em 30 dias, a carne teve alta de 1,58%, puxada pelo filé mignon, que subiu 3,15% no período. A fundação também prevê aumento de preços nos derivados do açúcar e da soja, produtos cuja exportação se torna mais vantajosa em época de dólar em alta, como a atual.
A FecomércioSP comenta que “o efeito da alta do dólar também já deve ser sentido a curto prazo sobre os preços dos produtos tradicionalmente importados, como azeite, vinhos e peixes (com destaque para o bacalhau e o salmão)”.
A entidade também prevê que o aumento de preços dos fertilizantes e defensores agrícolas, em grande parte importados, também pode elevar o custo da produção e chegar aos bolsos do consumidor. O mesmo vale para os cosméticos que utilizam matéria-prima importada.
“O segmento de eletrônicos também costuma ser atingido, uma vez que a maior parte dos televisores, computadores, celulares e outros equipamentos eletrônicos é apenas montada no Brasil, tendo boa parte de seus componentes importada”, comenta a federação. Para a entidade, o repasse dos aumentos ao consumidor depende e muito das características de cada mercado.
O economista Léo Renato Carrille, mestre em finanças e mercado de capitais, afirma que existe muita especulação em torno do dólar, que ele acredita que não conseguirá manter essa tendência de alta. Em sua análise, a moeda americana deve fechar o ano custando entre R$ 3,75 e R$ 3,80.
Sobre as altas de preços, Carrille acredita que o mercado deve segurar um pouco, porque não terá consumidor, já que a inflação “comeu” o salário do brasileiro. O cenário é de risco, com possibilidade de aumento da inadimplência.
Para Carrille, o mercado está inseguro porque não se sabe o que vai acontecer na economia. Segundo ele, se a presidente da República, Dilma Rousseff, deixar o governo, o dólar deverá baixar a R$ 3,00, em função não apenas dela, mas também de outros fatores.