É bem no hall de entrada da Casa de Passagem São Pio de Pietrelcina, em Rio Claro, que fica localizada na Rua 6 entre as avenidas 4 e 6, Centro, que a cachorrinha de nome Boneca passa a maior parte do dia. Na cama, ela vive olhando o movimento na via pública à espera de alguém que partiu, mas que desta vez não volta mais. A saudade é da tutora Adriana Aparecida de Oliveira, que por muito tempo viveu nas ruas e foi dependente química. Elas se conheceram em meio ao abandono. Aos 52 anos, Adriana faleceu no dia 10 de maio deste ano em razão de um câncer de colo de útero.
Ambas foram acolhidas no local no dia 9 de março deste ano. Em uma carta, escrita pouco antes de morrer, Adriana contou como a chegada à Casa de Passagem permitiu que ela tivesse dignidade nos últimos dias de vida: “Meu nome é Adriana! Estava na rua havia anos e descobri que estava com câncer e morrendo e, se não estivesse na Casa São Pio, eu não estaria escrevendo. Fui acolhida maravilhosamente bem por todos. Tenho cama limpa, roupa, comida. Comecei a tomar remédios e, para a minha felicidade, a minha filha cachorra Boneca pôde vir também. Mesmo tarde nasci novamente. Deus é o caminho, a verdade e a vida, e foi somente aqui que consegui encontrar a paz que eu estava precisando. Obrigada, Casa São Pio, por me dar a oportunidade de mudar o rumo da minha vida”, são alguns trechos da carta que foi colocada em um quadro na entrada do local como forma de eternizar essa história.
“Foi um tempo curto que Adriana e Boneca estiveram juntas aqui na Casa de Passagem, porém foi intenso. Cada vez que a Adriana saía com a ambulância, a Boneca ficava no portão esperando ela voltar ou ficava deitada na cama em que a Adriana dormia. Perto do horário da ambulância chegar, Boneca já ficava agitada. Foram inúmeras vezes que isso aconteceu até que um dia a Adriana não voltou mais e foi vencida pelo câncer. Na primeira semana da morte da tutora tivemos que colocar uma roupa da Adriana na caminha em que a Boneca dorme, tamanha era a saudade que percebíamos que a cachorra sentia da dona”, conta Geise Valente, que é coordenadora da Casa de Passagem.
Foi então que os responsáveis pela Casa de Passagem tomaram a decisão de permanecer com a cachorrinha Boneca no local: “Abandonar a Boneca nunca esteve nos nossos planos, ainda mais depois da perda que ela teve. Aqui sempre têm muitos acolhidos além de nós, que somos funcionários e da coordenação. Não completou um mês da morte da Adriana mas percebemos que a Boneca ainda passa determinados horários no portão como ela fazia antes, quando a ambulância vinha, e também lá no quarto onde a Adriana dormia. Estamos oferecendo a ela todo o amor e carinho que merece, pois vimos como esse laço delas era intenso e bonito. Os animais são muito fiéis e Boneca infelizmente hoje carrega um olhar triste pela ausência”, explica Geise.
“É uma história que eu acho que mexe com todos. Ter a Boneca aqui com a gente hoje é uma forma de honrar esse encontro dela e da Adriana nas ruas. Elas se escolheram e, apesar de terem a oportunidade aqui dentro da Casa da Passagem, o destino tinha outros planos para as duas. Dizer que a Boneca ficou órfã eu acredito que não seja a melhor colocação. Prefiro pensar que ela ganhou uma família. A família São Pio que nunca vai esquecer a Adriana e nunca abandonar a Boneca”, afirma Letícia de Carvalho (auxiliar administrativo da Casa São Pio).
Susto
Na sexta-feira (2), Boneca passou mal e precisou ser levada às pressas até um veterinário. Foi descoberto que ela tem epilepsia e que vai precisar tomar remédios. Além disso, a cachorra precisa ser imunizada. Se alguma clínica puder colaborar com a plicação gratuita da V10 e da Raiva, entrar em contato no telefone (19)99794-2797 (Geise).