Saburo trabalhando no Bar e Café Akamine

Nascido no Japão, ele veio para o Brasil em 1917 e 27 anos depois fez morada em Rio Claro, onde criou profundas raízes e deixou inúmeras lembranças

Nesta semana, no dia 16 de novembro (sábado – 18h), acontece no Casarão da Cultura (Av. 3, 568 – Centro), em Rio Claro, a cerimônia de abertura da exposição Brasil-Okinawa “O Caminho dos Antepassados” (“Uyafaafuji Nu Michi”). Trata-se de um resgate da história que começou com a imigração de Saburo Akamine que saiu do Japão em 1917. Já em 1944 ele escolheu a cidade de Rio Claro para fazer morada e criou profundas raízes no município deixando lembranças no comércio local e outras frentes. O idealizador deste projeto é Fabio Akamine, neto da figura principal desta história, que conversou com a reportagem do Jornal Cidade.

JC: Como nasceu a iniciativa de resgatar a história do seu avô e produzir essa exposição?

Fabio: “Em dezembro de 2019, fui pela primeira vez a Okinawa com o objetivo principal de conhecer os parentes que temos lá. Minha ideia era fazer contatos e criar novas pontes para que os laços familiares não se perdessem, uma vez que as gerações mais antigas estavam desaparecendo e as mais novas não se falavam. Foi uma experiência incrível e, de volta ao Brasil, comecei a organizar o acervo familiar que estava abandonado e a pesquisar as histórias da família, principalmente as que envolviam meu avô, Saburo Akamine. No final de 2022, escrevi um livro sobre essa “busca pelas raízes” e a repercussão me surpreendeu muito, principalmente porque várias pessoas apareciam a todo momento dizendo que haviam se identificado muito com a minha história. Ano passado, decidi que iria novamente a Okinawa, mostrar aos parentes de lá os resultados desse trabalho. Baseado na experiência que tive com meu livro, resolvi entrar em contato com a Biblioteca da Província de Okinawa para ver se eles não teriam interesse em fazer uma exposição aberta ao público de lá. Coincidentemente, duas semanas depois, uma comitiva da biblioteca veio ao Brasil e pude fazer uma reunião presencial para apresentar os detalhes da minha proposta. Eles se surpreenderam com a história da minha família, ‘compraram’ a ideia e passamos trabalhar nela juntos”

JC: Seu avô imigrou para o Brasil em 1917. Como se deu essa mudança?

Fabio: “A imigração do Saburo Akamine foi muito dolorosa. Assim como todos os outros imigrantes daquela época, o irmão mais velho dele, que o trouxe, acreditava que em 2 ou 3 anos trabalhando em fazendas de café, voltaria para Okinawa cheio de dinheiro. Essa era a mensagem das propagandas que os governos brasileiro e japonês divulgavam, com o intuito de suprir a falta de mão-de-obra pós abolição da escravatura. Meu avô tinha 13 anos incompletos quando acompanhou a família do irmão nessa aventura. Chegando aqui, viram que nada era conforme o prometido. A primeira fazenda em que trabalharam ficava em Jardinópolis e não tinha nem acomodações preparadas. No início, dormiam no curral. Tiveram muito problema para se adaptar à alimentação também. O maior golpe foi logo no ano seguinte, quando seu irmão faleceu, vítima da gripe espanhola”.

JC: O que aconteceu depois disso?

Fabio: “Depois disso, a esposa desse irmão o abandonou e voltou para Okinawa. Aos 14 anos de idade, Saburo teve que se virar e contar com a ajuda de outros parentes mais distantes. Nunca mais pôde rever seu pai e outros dois irmãos, que faleceram na Segunda Guerra Mundial. Só reencontrou sua mãe 36 anos depois. E só voltou a Okinawa, a passeio, apenas 53 anos mais tarde, um ano antes de falecer”.

JC: Ele chegou na cidade de Rio Claro em 1944, como foi essa mudança?

Fabio: “Em Rio Claro, ele arrendou um terreno e passou a vender frutas e hortaliças. Teve quitanda, bancas em feiras, e viajava para trazer de Campinas coisas que não produzia. Foi pioneiro em trazer frutas importadas na cidade, como maçãs, uvas e peras. Em 1948, ele comprou o antigo “Bar Alaska” (na Avenida 1, ruas 5 e 6) e o transformou no “Bar e Café Akamine”, introduzindo o bauru em Rio Claro. Também inovou ao trazer para seu negócio o liquidificador, oferecendo vitaminas para seus clientes. Em 1962, ele adquire o Restaurante Lord e o batiza de Restaurante Akamine. Ele também fez parte da loja maçônica, atingindo o grau de mestre. Desenvolveu muitos trabalhos filantrópicos nesse período, chegando a ser diretor da Casa das Crianças. Também fez campanhas de arrecadação de fundos para socorro ao Japão pós-guerra. Faleceu em 1971 e, em 1996, foi homenageado pela cidade, através de um projeto de lei de autoria do saudoso Tavinho Chiossi, com a criação da Avenida Saburo Akamine”.

JC: Qual a satisfação pessoal de mergulhar nesse universo familiar e poder homenagear seu avô e a história trilhada por ele?

Fabio: “Pesquisando sobre a história da família, aprendendo sobre todas as dificuldades que passaram, o sofrimento, os sacrifícios, cada vez mais entendo que, se hoje tenho casa, comida, estudo, se estou adaptado nesse país, tudo isso teve origem lá atrás, no sangue, suor e lágrimas desses antepassados. Sinto que o mínimo que eu poderia fazer é não deixar isso passar batido. A minha gratidão me “obriga” a trabalhar para que as histórias deles não sejam esquecidas. O fato de, neste momento, ter a oportunidade de levar a parte brasileira da história do meu avô de volta a sua terra natal, Okinawa, é de uma alegria indescritível. Da mesma forma, poder renovar a memória da comunidade rio-clarense a respeito de quem foi Saburo Akamine, também me dá um gostinho de parte do dever cumprido”, finaliza ao JC.

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