Estadão Conteúdo
Relatórios elaborados por pesquisadores a pedido do Ministério da Justiça reforçaram as características da violência homicida em diferentes regiões do País. Os estudos, aos quais o Estado teve acesso, foram encomendados a universidades no fim de 2015 para embasar a elaboração do Plano Nacional de Segurança. A ligação dos crimes com o tráfico de drogas, a atuação de facções criminosas organizadas e a deficiência dos serviços do Estado são pontos comuns em todos os documentos.
A metodologia das pesquisas envolveram levantamentos estatísticos dos registros de homicídio, além de entrevistas com policiais e servidores da área da segurança, assim como membros da comunidade local. Na seção que analisou a criminalidade no Centro-oeste, pesquisadores da Universidade Católica de Brasília deram destaque a conflitos decorrentes do tráfico de drogas.
“As drogas aparecem como a principal explicação e, segundo os entrevistados, elas teriam tomado conta dos bairros periféricos. Não aparece como uma questão para os entrevistados a razão pela qual as drogas se tornam um problema somente nestas regiões periféricas, uma vez que seu consumo não é exclusivo das camadas de menor renda. Elas não seriam um problema para a segurança pública nos bairros de classe média, com a presença de homicídios decorrentes do uso e tráfico?”, indagaram os professores.
A realidade não é exclusiva do Centro-oeste. No relatório que diagnosticou a situação em Minas e em São Paulo, a conclusão se repetiu. Pesquisadores do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança (Crisp), da Universidade Federal de Minas (UFMG), disseram acreditar que o “tráfico é um elemento que potencializa os homicídios intencionais não apenas por ser uma atividade ilegal, mas por vir acompanhado do comércio de armas de fogo”.
No Rio, especialistas do Laboratório de Análise da Violência (LAV), da Universidade Estadual do Rio (UERJ), citaram um quadro de ausência de serviços do Estado como propício para o desenvolvimento da criminalidade. Com uma baixa oferta de serviços básicos, de educação a saneamento, áreas periféricas de municípios analisados no Rio veem afetada a “confiança da população com o poder político”, o que ajudaria a entender o “desejo de a população fazer justiça com as próprias mãos”, “frase repetida em muitas entrevistas”.
Do Sul ao Nordeste, o perfil das vítimas de assassinatos foram similares: jovens negros moradores de regiões periféricas. A reportagem tentou contato com o Colégio Nacional dos Secretários de Segurança para comentar o teor dos relatórios, mas não houve retorno. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.