É a partir desta “retomada de poder” que os jornalistas espanhóis Antonio Arenas e Rafael Plaza escrevem “Nadal & Federer – A História da rivalidade mais importante do tênis”. A obra pega carona nas conquistas de 2017 para contar desde o início a relação entre aqueles que são considerados por muitos como os maiores da história.
Para quem não acompanhou o circuito profissional, vale recordar: Federer e Nadal precisaram encerrar suas temporadas de forma precoce em 2016, por motivo de lesões. O desgaste físico e a queda técnica logo geraram expectativa de que eles jamais repetiriam as conquistas de outros tempos. Os mais afobados davam a aposentadoria deles como certa.
Mas, de forma surpreendente, Federer voltou ao circuito com o título do Aberto da Austrália. Depois venceu em Wimbledon pela 8ª vez. Nadal foi campeão em Roland Garros pela 10ª vez e levou também o US Open. Ambos ainda faturaram outros torneios importantes ao longo de 2017. Logo estavam brigando pela liderança do ranking. Nadal é o atual líder, Federer ocupa o segundo posto.
Esta retomada da dupla é contada em detalhes na obra. Os autores destacam como o espírito competitivo de Nadal e Federer, de constante esforço e consequente crescimento, fizeram deles sumidades e ídolos. Mostram como um ajudou a definir o outro, como se o novo degrau que um consegue subir se transformasse em estímulo para a evolução do rival.
Não há grandes revelações no livro, mas não faltam boas histórias e até causos de bastidores, quase todos tendo Nadal como protagonista. Apesar de o livro ter como foco a rivalidade entre os dois tenistas, a narrativa se concentra no espanhol. Não por acaso. Os autores são seus compatriotas. E a maior proximidade dos jornalistas com a trajetória do “Rei do Saibro” fica evidente em cada capítulo.
Há passagens interessantes sobre a personalidade do tenista, medroso e um tanto avoado fora das quadras. Citam seu gosto – quase um vício – em jogar ludo, aquele do tabuleiro, e videogame E também o hábito dos colegas de carregarem controles extras para o caso de Nadal arremessar algum na parede em caso de derrota. Mencionam ainda as séries favoritas dele, e a relação dos seus enredos com a personalidade do atleta.
Em certos trechos, há exaltação excessiva do espanhol, como no capítulo em que descrevem a importância da quadra central do Masters 1000 de Montecarlo, onde já foi campeão por 11 vezes. “Foi lá que Rafa nasceu, cresceu e subiu até tocar o céu com a ponta dos dedos.”
Nadal é retratado como atleta de comportamento perfeito com e sem a raquete na mão, enquanto Federer ganha pouco espaço no livro. Chega a ser tratado como antipático em alguns trechos. Só recebe maior destaque quando tece elogios ao colega. Por tudo isso, a obra mais se assemelha a um complemento da autobiografia do espanhol publicada em 2011 e escrita em parceria com o jornalista inglês John Carlin.
Apesar da inclinação na narrativa, o livro tem méritos por destacar e valorizar este relacionamento de 14 anos entre dois ícones do esporte que são rivais e também amigos, caso raro no tênis e em outras modalidades.