Adriel Arvolea
No dia 23 de fevereiro de 2014, parte da centenária Figueira de São Benedito caiu devido a um temporal. À época, foi anunciado pela prefeitura que a intenção era preservar o legado histórico-cultural do exemplar. Da parte que cedeu, a madeira foi cortada e seria conservada com a preparação dos troncos para que recebessem o tratamento químico necessário para sua preservação. Pretendia-se, também, promover concurso público para a produção de obras de arte com as peças estabilizadas.
No momento, a prefeitura informa que os trabalhos de recuperação e reaproveitamento de partes da figueira estão sob responsabilidade da Secretaria de Cultura. Os troncos maiores da figueira permanecem na fase de preparo para os procedimentos químicos de conservação. “Assim que concluída esta fase será feito o encaminhamento para a produção de bens simbólicos que remetam à importância da figueira para toda a comunidade rio-clarense e, em especial, à comunidade negra”, esclarece em nota.
A parte do tronco que permanece em pé abre discussões quanto ao futuro da árvore: mantê-la como está ou cortá-la com replantio? Independente do destino que se dê ao exemplar, José Ariovaldo Pereira Bueno acredita na força divina. “Se o vento derrubou a figueira, foi porque Deus quis assim. E Ele, nosso Pai, vai dar condições para que ela se recupere. É algo natural, uma lembrança muito linda que não está acabada. Se foi plantada com carinho, vai se recuperar com o mesmo carinho, se Deus quiser”, diz confiante.
Seu Ari, como é conhecido, lidera o Grupo Folclórico Congada e Tambu de São Benedito Rio-clarense. Conforme avalia, a figueira é símbolo da libertação e de manifestações culturais, considerada um marco para a comunidade negra. “O seu crescimento foi acompanhado pelos encontros, festejos e comemorações de irmandades, negros sambistas, macumbeiros e de tantas outras doutrinas. Tradições que se mantiveram ao pé da figueira ao longo de mais um século”, relembra.
Uns dizem que a árvore tem entre 100 e 120 anos, mas seu Ari é enfático ao afirmar essa idade. “A figueira tem muito mais que 150 anos. Em 1946, pertencia à Irmandade de São Benedito e era tudo mato naquela área, um areão, e a árvore já existia. Ali acontecia o samba da Umbigada, o Tambu, uma dança folclórica. Ao redor, havia uns espaços fechados, tipo cercados, onde aconteciam os sambas, o Tambu e o Samba-lenço. Aquela sombra, acolhedora e hospitaleira, era onde meus tataravôs faziam oferendas para os orixás. Os negros e escravos faziam suas devoções, cultos e orações junto à árvore. Ali era feito o culto dos negros”, conta. O exemplar, também, é memória viva do crescimento de Rio Claro, pois serviu de pouso para os tropeiros que cortavam a região. Com suas tropas e boiadas, foram recebidos pela figueira.