Dentro do laboratório de Anatomia do curso de Medicina do Claretiano – Centro Universitário, o professor e doutor Tarcísio Triviño se diz “encantado” e discorre com empolgação sobre o que o motivou a retornar às salas de aula. Aos 76 anos, ele havia optado há um ano pela aposentadoria – das cirurgias – e há cinco anos das salas de aula, mas não resistiu ao convite para ministrar uma disciplina na nova faculdade.
Natural de Minas Gerais, onde se graduou em 1967 na Faculdade Federal de Medicina do Triângulo Mineiro, Triviño é ligado a Rio Claro pela esposa, natural da cidade. Aqui ele veio morar quando decidiu pelo descanso, mas logo foi convencido a retornar ao ensino superior.
O encanto se deu com a estrutura oferecida para os alunos e professores: “O professor Jair [Verginio Jr., coordenador do curso] me convidou e disse que eu sou a pessoa indicada para a disciplina de introdução à medicina e história da medicina – que eu não tive – e hoje faz parte do currículo obrigatório. Comprei três livros sobre o assunto e não parei de ler, escrever e me envolver com isso”, explica.
Em sua primeira aula, ele abordou a polêmica criada em torno da criação de tantas novas faculdades pelo país: “Eu me encantei com a estrutura que encontrei. Na primeira aula que dei aqui, disse a eles que estou atento – muitas faculdades no Brasil começaram ‘pequenininhas’ e se tornaram verdadeiros mananciais de sabedoria”, pontua ele.
Prêmio
O ano de 2019 marcou o retorno do Dr. Tarcísio para as aulas e também a celebração de sua carreira, que se estende por mais de 50 anos. Ele recebeu, no começo deste mês, o Prêmio Medalha do Mérito Cirúrgico, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Escolhido por seus pares para receber a honraria, ele destaca as origens que justificam uma carreira tão bem-sucedida na clínica, cirurgia (incluindo transplante de fígado e pâncreas) e sala de aula: “Venho de uma família de professores, meu pai era professor de física, matemática, também era advogado e pianista; o sonho dele era ter um filho médico – me encontrei na medicina e no magistério, paixão dele”.
Preparo
Para Triviño, especializado em gastroenterologia, o grande desafio da faculdade é oferecer aos futuros médicos informações e preparo para a realidade da prática médica. Os professores têm como desafio orientar não apenas para a prática médica, mas para a humanidade do profissional: “Você precisa preparar o jovem aluno para que, ao sair da faculdade, ele encare a realidade – ele não tem a menor ideia do que é enfrentar um semelhante morrendo, ou falar para uma família que um membro morreu, ou encontrar hospitais cheios de gente nos corredores – os alunos não estão acostumados com isso. Eu apanhei muito, para muitas situações eu não estava preparado. Já escrevi sobre isso em meus livros, falando meus insucessos, por isso uso essas experiências para preparar o aluno, para que ele saiba evitar ou resolver futuros insucessos”, finaliza Triviño.