O dia 30 de dezembro de 2023 ficou marcado por um episódio de violência em Portugal que teve como vítimas o rio-clarense Kaique dos Santos Soares e seu noivo Bruno Cesar Alves Marcelino – que nasceu em Mogi das Cruzes mas veio para Rio Claro com quatro anos e passou boa parte da vida no município. Kaique, que é chefe de cozinha, tem 23 anos, morou no bairro Maria Cristina e se formou na escola Joaquim Ribeiro. Já o empresário Bruno tem 31 anos e residia no bairro Arco-Íris. Ele estudou nas escolas Silvio de Araújo e José Cardoso, foi guarda mirim e também vereador jovem na cidade em 2009.
Era por volta das 3h15 quando o casal, de mãos dadas, saiu de uma festa no Cais de Gaia, uma região turística, gastronômica e boêmia em Vila Nova de Gaia, Portugal. Cinco minutos depois eles viveram momentos de terror como relata Bruno: “A gente avistou a um quarteirão um grupo de uns 10 jovens e seguimos em frente, pois teríamos que passar por eles porque era o caminho da nossa casa. Quando nos aproximamos percebemos que eles estavam olhando para nossas mãos e um deles veio em nossa direção perguntando se tínhamos 10 euros para dar. Eu respondi que não e em seguida já levei um soco no rosto. Fiquei desorientado, mas me lembro do meu companheiro pedir para eu correr. Eu tentei mas fui puxado e ali eu já cai no chão e outros integrantes desse grupo se aproximaram e começaram a me chutar, principalmente na região da cabeça. O Kaique vendo a cena tentou me ajudar, mas também foi recebido com vários socos. É difícil precisar quanto tempo durou, mas só terminou quando um desses agressores determinou para o grupo parar. A gente conseguiu se levantar, correr, nos abrigamos em um local nas proximidades e ligamos várias vezes para a polícia. Quando as autoridades chegaram até nós, relatamos o que tinha acontecido e indicamos onde o grupo estava, porém os policiais queriam que nós descrevêssemos as pessoas, perguntaram se nós fomos roubados e eu disse que não, e foi realmente a verdade. Porque em nenhum momento tentaram tomar nossos celulares ou carteira. Fomos agredidos por ódio e a motivação ali poderia ser xenofobia, homofobia, racismo, entre outras coisas. No meio de questionamentos eu e Kaique pedimos para os policiais não deixarem o grupo fugir. Houve uma demora e os agressores, ao perceberam a movimentação, muitos que estavam correram e não foram abordados no momento. Fomos encaminhados a um hospital e recebemos atendimento. Em um documento da polícia que faz parte da investigação consta a expressão ‘crimes contra o patrimônio’. Mas está claro que não foi”, declara a vítima.
Bruno e o companheiro então decidiram expor o caso nas redes sociais: “Fizemos porque não é o primeiro caso de agressão em Portugal que temos conhecimento contra imigrantes. Tiramos fotos dos nossos rostos e contamos tudo com o intuito mesmo de alcançar mais pessoas e fazer o alerta para que a Justiça seja feita. Conscientizar a sociedade de que isso acontece e lutar para que os agressores respondam pelos atos criminosos. Não são fatos isolados como tentam passar, mas virou algo rotineiro”, aponta.
O casal está com uma advogada acompanhando o caso. Ludimila Poirier é brasileira e tem atuado em Portugal: “Ela se sensibilizou com a nossa situação e nos procurou. Inclusive ela já atuou em casos parecidos. Nos acompanhou até a delegacia para um depoimento oficial e também reconhecimento de envolvidos através de fotos. Eu sinceramente não consegui identificar ninguém, porque recebi muitas pancadas na cabeça e sofri apagões, mas o Kaique conseguiu identificar alguns e exatamente esses estavam no grupo abordado no local. O restante agora, a ideia que demos à polícia e que a nossa advogada solicitou, é que imagens de câmeras de segurança sejam avaliadas. Que seja feita uma investigação nesse sentido. Até o momento são seis identificados, mas esperamos que todos sejam”, diz Bruno.
Em meio a um final de ano assustados que Bruno e Kaique passaram, a esperança é que 2024 traga a vitória de ambos diante do que sofreram: “É algo desesperador. Ali nós achamos que iríamos morrer. Vamos lutar para que todos sejam identificados, autuados, culpabilizados e responsabilizados pela agressão. E que essa agressão não seja tipificada como um crime ao patrimônio, mas que tenha o peso da realidade, pois o grupo assumiu um papel que poderia ter levado à minha morte e à do meu companheiro”, finaliza.