Foto: Folha Press

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Líderes nas pesquisas, Celso Russomanno (Republicanos) e Bruno Covas (PSDB) foram os principais alvos dos adversários no primeiro debate entre candidatos a prefeito de São Paulo, na noite desta quinta-feira (1º), na Band. Dos 14 postulantes neste ano, 11 participaram.

Russomanno, deputado federal e apresentador de TV que aparece à frente nas intenções de voto (29%, de acordo com o Datafolha), evitou responder diretamente sobre a maior parte dos questionamentos e exaltou a aliança com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que vem sinalizando apoio à sua candidatura.

Russomanno usou como principal arma sua proposta de criar o auxílio emergencial paulistano, ideia que foi questionada por oponentes em razão de dúvidas sobre a capacidade da prefeitura de financiar o benefício.

O candidato repetiu que terá a ajuda de Bolsonaro para levantar os recursos e que isso será feito com a renegociação da dívida do município com a União. “Sou o único candidato aqui que tem amizade com o presidente da República”, disse.

“O que pagamos de juros é absurdo. Mas, pela minha amizade com o presidente Bolsonaro, meu trânsito no Congresso Nacional e nos ministérios, eu tenho condição de fazer isso”, prometeu.

Covas, que busca a reeleição e é o segundo colocado na pesquisa Datafolha (com 20%), teve que dar explicações sobre sua gestão, em confrontos com o líder das pesquisas e com outros rivais.

O prefeito defendeu, por exemplo, a obra de revitalização do Vale do Anhangabaú, com custo de R$ 93 milhões, ao ser cobrado por Andrea Matarazzo (PSD), que ainda chamou o tucano de inexperiente.

Covas afirmou que o local será um privilegiado espaço de eventos e lazer, “uma nova avenida Paulista”, além de contribuir para a revalorização da região central da cidade.

Conservador, Matarazzo ainda levantou uma questão no campo ideológico, lembrando que o prefeito nomeou como secretário de Cultura um simpatizante da esquerda, Alê Youssef.

“Quero lamentar que uma pessoa tão inteligente quanto você tenha ficado tão amarga por causa das derrotas que acumulou nos últimos anos”, retrucou Covas, que teve Matarazzo como colega no PSDB até 2016.

Com um recorde de candidatos, o tempo de fala de cada um foi exíguo. Ainda assim, houve espaço para uma série de propostas que reverberaram nas redes sociais, como o Programa Jovem Capitalista, o centro para atletas de games e o capacete com trava de motocicleta.

Conhecidos pela retórica inflamada, Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota) usaram suas intervenções para mirar principalmente os dois adversários que lideram as pesquisas.

A deputada federal disse, por exemplo, que Russomanno desconhece a cidade. O deputado estadual questionou o deputado sobre incoerências em seu histórico político, como o apoio à eleição de Dilma Rousseff (PT) em 2010.

Russomanno martelou o discurso de que atua em defesa do consumidor, em alusão aos quadros que comanda em programas da TV Record. “Eu tenho história na política. E a minha história se fez defendendo você [consumidor]”, afirmou.

O deputado tratou a relação com Bolsonaro de duas maneiras distintas. Quando quis se gabar do apoio federal e citar benefícios que isso pode trazer para a cidade caso seja eleito, colocou-se como um aliado fiel do presidente.

Quando as perguntas continham aspectos negativos, respondeu que diferenças dos adversários com Bolsonaro devem ser resolvidas na próxima eleição nacional, em 2022, e tentou trazer o debate para questões locais.

A Orlando Silva (PC do B) Russomanno afirmou: “Se você tem problemas com o presidente Bolsonaro, deve levar isso para a eleição de 2022. Aqui nós estamos falando da cidade de São Paulo”.

Silva criticou Bolsonaro pela atuação no combate à pandemia do coronavírus. Disse que o titular do Planalto “é o responsável pelas mortes e pelo desemprego”.

A temática foi evocada também por Covas, ao formular pergunta a Russomanno. “Aqui em São Paulo temos pautado as decisões alinhadas à área da saúde”, observou o tucano, que desde o início da crise tem buscado, assim como o governador João Doria (PSDB), se diferenciar da postura displicente de Bolsonaro.

O presidente também foi mencionado por Guilherme Boulos (PSOL). Ele questionou Márcio França (PSB) sobre o encontro que o ex-governador teve com Bolsonaro em agosto, o que despertou críticas a ele em setores da esquerda. França nega ser apoiador do presidente.

Jilmar Tatto (PT) distribuiu ataques a Covas e ao governador Doria, que foi eleito para a prefeitura em 2016 e renunciou ao cargo em 2018, deixando a cadeira para o atual prefeito.

Ao polarizar com o candidato à reeleição, Tatto afirmou ter criado o Bilhete Único quando foi secretário dos Transportes na gestão Marta Suplicy (à época no PT). Covas, que conta com o apoio da ex-prefeita (hoje sem partido), disse que o feito foi dela.

O tucano disse ainda que o PT “vai dar cargo para a companheirada” e afirmou que Tatto poderia dar um cargo à ex-presidente Dilma na prefeitura, caso se eleja. “O PT já teve sua chance. O PT sabe é acabar com o que os outros começaram”, disse.

Tatto focou em propostas de Transporte, tema que domina, e prometeu passe livre a desempregados. O petista mencionou seus padrinhos, o ex-presidente Lula (PT) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), apenas nas considerações finais.

O momento foi usado por outros candidatos para evocarem padrinhos e sua história: Boulos mencionou a sua vice, ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL); Matarazzo recordou sua família; e Covas falou do avô, o ex-governador Mário Covas.

Marina Helou (Rede) e Filipe Sabará (Novo) fizeram dobradinhas durante o programa, dando oportunidades para que cada um apresentasse ideias e fizesse comentários sobre temas específicos.

Marina participou do debate graças a uma decisão judicial. Sabará, que chegou a ter sua campanha suspensa pelo Novo devido a acusações sobre sua formação, também obteve aval da Justiça para seguir com a candidatura.

A candidata da Rede chamou a atenção em sua primeira aparição no debate, ao usar o tempo para se apresentar e convidar os espectadores a visitarem seu site para conhecer a opinião dela sobre o tópico predeterminado.

A exemplo de Marina, muitos candidatos pediram aos eleitores que recorressem ao Google ou entrassem em suas páginas nas redes sociais para elucidar tanto propostas quanto ataques.

Também houve dobradinha entre Russomanno e França, com perguntas que abriam margens para críticas ao PT e ao PSDB, rivais de ambos os candidatos.

Em sua estratégia de buscar o voto anti-Doria, França disse que políticos eleitos devem cumprir o mandato até o fim, em indireta para o ex-governador, que abandonou a prefeitura após 15 meses de gestão.

Doria também teve o nome usado por Silva para atacar Joice, lembrando o apoio da deputada ao hoje governador no pleito de 2018.

Um dos primeiros temas que levantaram divergências entre os participantes foi o debate sobre a cracolândia, que ganhou protagonismo nas últimas semanas. Covas e Joice usaram a expressão “bolsa crack” para desqualificar o programa adotado por Haddad, que incluía o pagamento de uma quantia em dinheiro para usuários de droga, além de tratamento e assistência.

Jilmar disse que, se vencer, vai retomar o De Braços Abertos, programa da gestão petista. “Assim que o Doria e o Bruno assumiram a prefeitura, esparramaram [os usuários], usaram violência contra essas pessoas”, afirmou o petista, que buscou valorizar o apoio do ex-presidente Lula (PT) à sua campanha.

A pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostrou Russomanno à frente, com 29% das intenções de voto. Atrás dele vem o atual prefeito, Covas, com 20%, quase o mesmo índice daqueles que dizem que vão votar em branco ou nulo (17%).

Em terceiro lugar empatam Boulos (9%) e França (8%). Não sabem responder 4%.

A pesquisa mostrou ainda uma significativa rejeição aos “padrinhos” na eleição municipal: 64% dos entrevistados dizem que não votariam de forma alguma em um nome apoiado por Bolsonaro, e 59% se recusam a escolher um candidato indicado por Doria.

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