Após décadas em um terreno na Avenida M-25, tradicional Feira do Cervezão pode mudar para dentro da Lagoa Seca
É nas primeiras horas da madrugada de domingo que os produtores rurais e comerciantes começam a chegar ao terreno na Avenida M-25, ao lado da Escola Municipal ‘Sebastião da Silva’, para montar a tradicional Feira do Cervezão. O evento é permanente e acontece há décadas neste mesmo lugar. No entanto, nas últimas semanas, os feirantes observaram a instalação de uma placa com propaganda de ‘aluga-se’ para a área e também relataram que foram informados pela Prefeitura sobre a possibilidade de terem de deixar o local em que trabalham há dezenas de anos.
A reportagem do JC esteve na Feira do Cervezão para conhecer de perto a história de alguns desses feirantes, que estão preocupados. A produtora rural Fatima Corocher trabalha por lá há mais de 30 anos. “Tudo que tem aqui somos nós que plantamos. Meu pai que começou a vir na feira, hoje somos nós e ele fica no sítio na Cachoeirinha [perto de Ajapi]. O que trazemos plantamos lá, como frutas, verduras, legumes, um pouco de cada coisa. Meu marido sempre trabalhou em firma, mas eu continuei o trabalho do meu pai. Temos uma freguesia boa, graças a Deus”, comenta ao lado do esposo Antonio Noventa, que passou a trabalhar com ela na feira.
Fatima recorda que toda estrutura ofertada aos clientes da feira é dos próprios produtores. “Agora falaram que vão tirar a gente daqui e levar para a Lagoa Seca. A feira tem há muitos anos aqui, se alugarem o espaço, vamos ter que sair daqui. Se for para lá vai atrapalhar, muitos fregueses já falaram que se mudar não irão”, lamentou.
Um dos pastéis e caldo de cana mais disputados da Feira do Cervezão é do senhor Mauro Sergio. Antes comercializava os produtos perto da rodoviária, mas há sete anos passou a vender na feira. “Quando vim para cá já falavam que seria mudado lá para a Lagoa Seca. Eu sempre opinei para não ir, uma coisa que está dando certo, para que ir lá para baixo se todo mundo está acostumado aqui? A Feira do Cervezão mudar para lá é matar a feira”, declarou.
Mauro diz que os feirantes investem do próprio dinheiro para dar estrutura aos clientes. “A Prefeitura deveria fazer alguma cobertura aqui. Dizem que metade do terreno é da Prefeitura e metade não, portanto tem até a placa para alugar. Eu sou contra ir lá para a Lagoa Seca”, afirmou, lembrando que o entorno da Lagoa Seca sofreu com alagamentos recentemente.
O chamado Cícero da Feira, como é conhecido há quase 20 anos, é um dos comerciantes mais tradicionais que todo domingo chegam quando ainda é noite para montar sua barraca e vender alimentos que sua família planta na região rural. Assilon Mariano de Souza é natural da Paraíba e veio para Rio Claro há 53 anos.
“Saí de João Pessoa com sete anos. Eu fazia atividades de lavoura e hoje planto de tudo, milho, feijão, mandioca, quiabo, jiló, melancia, etc. Além da feira, meu negócio é no sítio. Só vendo aqui de domingo e o que não vendo doo para quem precisa. O que tem aqui é tudo nós que produzimos, graças a Deus. A feira é muito boa, consegui criar meus quatro filhos”, comenta. Sobre a estrutura da feira, cobra da Prefeitura apoio. “A gente paga imposto aqui e não tem nem banheiro decente”, se queixa.
O QUE DIZ A PREFEITURA
A reportagem do JC conversou com a Secretaria Municipal de Agricultura, responsável pela gestão das feiras em Rio Claro. De acordo com o chefe de gabinete da pasta, Elias Hussni, há um projeto pronto para ser apresentado aos feirantes do Cervezão para confirmar a mudança de local para dentro da Lagoa Seca.
“Começaram a surgir alguns problemas. A maior parte do terreno é de uma imobiliária, que quer fazer um aluguel da área. A Prefeitura tem uma pequena parte, menor, em que caberiam duas barracas de tão pequena. O melhor lugar para fazer o espaço seria na Lagoa Seca. Com banheiro a ser reformado, aproveitaríamos o espaço que tem grande potencial. Toda mudança gera euforia, acreditam que vai prejudicar, mas a intenção da Prefeitura é melhorar”, afirma Hussni.
Segundo o representante do poder público, a ideia é primeiro reformar a área dentro da Lagoa Seca para depois efetivar a mudança, que ainda não tem prazo. “Por lá há um grande movimento. A ideia é melhorar primeiro antes de fazer a troca. Por enquanto sem previsão, vamos negociar com a imobiliária para ganhar tempo. Queremos chamar os feirantes para mostrar que essa mudança é para o bem deles. Já existe um projeto, queremos fazer apresentação aos próprios feirantes. Estamos com recursos para reformar os banheiros. Vamos conversando com a pasta de Obras para trabalhar em equipe”, explica.
Ainda segundo o servidor, “estamos atualmente em fase de análise para viabilizar a implementação desta alteração. Embora não haja uma data definitiva, já existe um projeto em andamento para a remodelação e adaptação da área da Lagoa Seca, visando à feira aos domingos. Os principais impulsionadores dessa mudança residem na natureza não municipal do terreno atualmente disponível para locação, nas limitações do acesso aos recursos, como o uso do banheiro da escola, e nas restrições da capacidade elétrica do local, impactadas pela frequência crescente dos feirantes”, finaliza Elias.