Rio Claro, assim como todo o Estado de São Paulo, recebeu imigrantes italianos e seus descendentes ao longo de décadas. Nos 150 anos da imigração italiana no Brasil, documentos comprovam a ligação entre Itália e a Cidade Azul no Arquivo Público
Os 150 anos da imigração italiana no Brasil foram celebrados no último dia 21 de fevereiro por milhões de descendentes de famílias que saíram da Itália em busca de uma nova vida em terras brasileiras. E em Rio Claro não foi diferente, uma vez que aqui residem milhares de munícipes com origem italiana, além de também italianos que escolheram a Cidade Azul para viver e colaborar com a transformação social que se formou ao longo das décadas na sociedade rio-clarense.
Segundo o livro “Imigrantes italianos em Rio Claro e seus descendentes; 1”, de autoria da pesquisadora Lícia Capri Pignataro para o Arquivo Público e Histórico de Rio Claro na década de 1980, assim como na indústria paulista, na cidade a influência dos imigrantes italianos foi enorme no Século XIX e Século XX, após o fim da escravidão, quando o italiano Conde Francesco Matarazzo fundou o maior parque industrial de tecelagem da América do Sul até então em Rio Claro. Mas, não foi só isso.
De acordo com a pesquisadora, os italianos fundaram, além de indústrias, casas comerciais, construíram casas, trabalharam nas estradas de ferro, calçaram ruas, também se dedicaram a ofícios como sapateiros, alfaiates, folheiros, além da própria atuação nas lavouras de café e centros sociais, como a criação da Sociedade Italiana de Rio Claro, que está prestes a completar 130 anos de fundação na cidade.
Foram quatro edições do livro de Pignataro produzidas pelo Arquivo Público. A primeira delas traz detalhes sobre as famílias Castellano, Giorgi, Piccoli e Zanardi. A segunda edição, lançada em 1982, fala sobre as famílias Fittipaldi, Scarpa, Fina, Codo, Venturoli, Gardenal, Santomauro, Pignataro. A terceira versão do livro, de 1984, apresenta as famílias italianas Botti, Cassavia, Padula, Timoni, Cerri, Coli, Muccillo e D’Aquino. E o quarto livro, de 1988, as raízes italianas de Benetti, Monaco, Pilla, Sciarra e Vecchiato.
MEMÓRIA VIVA
O Arquivo Público de Rio Claro também tem preciosidades que revelam um pouco sobre a atuação dos italianos no município. São outros três conjuntos de documentos originais que atestam o trabalho dos imigrantes na cidade. Em um deles, no livro de registros da construção civil de Rio Claro, em 1935, há a documentação de dois italianos, entre eles Eugenio Romano, arquiteto e agrimensor licenciado.
Até mesmo a sua carteira de habilitação está sob tutela da autarquia para manutenção e disponibilização a consulta. Os dados mostram que Romano atuava no setor e colaborou com inúmeras plantas arquitetônicas e construções nos bairros de Rio Claro naquela época. Outro conjunto traz 139 prontuários de origem italiana com os dados e documentos das carteiras de habilitação de outros imigrantes que se instalaram na cidade.
Um dos primeiros livros de registro da fundação da Sociedade Italiana de Rio Claro, de 1927, também está no acervo do Arquivo Público, bem como o livro do Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro fundado em 1957 no município. Além disso, há um volume considerável de atestados de óbito que recuperam informações sobre a população que residiu em Rio Claro décadas atrás, sendo muitos com origens italianas e europeias em geral.
De acordo com a superintendente do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, Mônica Frandi Ferreira, a colaboração da atuação dos italianos para o município é confirmada através dos registros históricos do seu acervo. “A historiografia geral trata da importância dos italianos para a cultura brasileira de uma maneira geral, mas aqui no Arquivo encontramos testemunhos dessa contribuição. Quando analisamos um documento original encontramos o registro de um construtor de nacionalidade italiano, vemos registros de óbitos sabendo a causa mortis, conseguimos encontrar em jornais antigos sobre a vida dos italianos. Temos vários documentos, a importância de ter uma instituição arquivista na cidade é muito importante para ter provas do que vemos no Brasil todo”, explica.
SOCIEDADE ITALIANA
O papel da Sociedade Italiana de Beneficência de Rio Claro para a comunidade local é inestimável. A instituição completará daqui alguns meses seus 130 anos de fundação e nessa semana também celebrou os 150 anos da imigração italiana na Cidade Azul.
Em entrevista ao Grupo JC de Comunicação, o presidente Otávio Barsotti fala sobre a origem da entidade. “Imagina sair da Itália, chegar aqui com uma língua totalmente desconhecida, era muito complicado. O imigrante chegava perdido, sem dominar o idioma, sem conhecer nada do País. Criou-se a Sociedade Italiana com esse objetivo, para ‘socorrer’ quem chegava da Itália”, comenta.
Atualmente, a entidade é voltada para o setor cultural, como divulgação e aprendizado do idioma italiano, e a promoção da cultura italiana. “Somos uma entidade sem fins lucrativos, todos somos colaboradores e temos fim filantrópico para as instituições que precisam. Temos uma comunidade italiana grande em Rio Claro. A cultura italiana resiste ao tempo, conseguimos manter essa sociedade em pé”, finaliza Otávio.
Francesco Farinaccio, italiano integrante da diretoria da instituição e professor da língua italiana, chegou em Rio Claro aos 12 anos de idade, em 1961. “Os primeiros que chegaram aqui eram agricultores e foram trabalhar nas lavouras de café para substituir a mão escrava. A segunda imigração foi de artesãos, que se instalaram nas cidades, como em São Paulo. Em Rio Claro, não temos um bairro específico de italianos, mas temos muitas famílias”, explica.
Ele relata a mudança de vida ao sair da Itália e vir morar no Brasil. “Resolvemos vir morar em Rio Claro, por conta de Enrico Celulari, que foi nosso ponto de apoio. Viemos em quatro irmãos, nosso pai queria uma vida melhor para nós. Lá na Itália não passamos fome, muito menos aqui. Mas viemos para uma vida melhor, tínhamos pouca coisa para muita gente. Demos a cara a tapa. O que chamou a atenção do meu pai foi que disseram a eles que no Brasil são 28 Itálias em extensão territorial, disse que seria aqui que teria a certeza de se dar bem”, conclui.