Folhapress

O ex-astronauta e ex-ministro Marcos Pontes, (PL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), foi eleito senador por São Paulo neste domingo (2), desbancando o ex-governador Márcio França (PSB), aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que era apontado como favorito pelas pesquisas.

Pontes foi eleito com 50% dos votos válidos, apuradas 94% das urnas. França conseguiu 36%. Outros concorrentes na briga pela cadeira em disputa neste ano, para um mandato de oito anos, saíram-se pior ainda: Janaina Paschoal (PRTB) teve 2% e Edson Aparecido (MDB), 8%.

Pontes chega ao Senado tendo como experiência prévia na vida pública os três anos e três meses em que foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações no atual governo. No posto, ele tentou dar verniz científico a ações controversas e endossou pautas bolsonaristas como os esforços do governo para promover medicamentos sem eficácia contra a Covid-19.

O então ministro exonerou, em 2019, o físico Ricardo Galvão do comando do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no momento em que o titular do Palácio do Planalto discordava de dados do desmatamento elaborados pelo órgão.

Bolsonaro anunciou a escolha de Pontes para integrar o governo em outubro de 2018, pouco depois da sua eleição. Ele chegou a ser cotado para vice na chapa presidencial, mas o plano não avançou.

O presidente foi seu padrinho político na campanha ao Senado, ungindo-o como candidato oficial do Planalto, espaço também pleiteado por Janaina Paschoal, que em 2018 foi eleita deputada estadual com mais de 2 milhões de votos e a partir do ano que vem ficará sem cargo eletivo. A professora de direito, celebrizada pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), atacou a inexperiência política do rival na tentativa de desidratá-lo, mas o argumento foi insuficiente.

O receio de pulverização de votos no campo da esquerda se dissipou à medida que o ex-ministro foi subindo nas pesquisas e, embalado também pelo crescimento do candidato a governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), acabou se consolidando como o nome bolsonarista para o Senado.

Conhecido como o primeiro e único astronauta brasileiro, Pontes passou dez dias em órbita em 2006. Entrou para a política em 2013 e concorreu a deputado federal por São Paulo pelo PSB em 2014 –obteve 43.707 votos, mas não se elegeu e deixou o partido pouco depois.

Em 2018, foi segundo suplente de Major Olímpio (PSL-SP), que se elegeu senador e morreu de Covid-19 em 2021. O primeiro suplente, Giordano (MDB), assumiu a vaga. A terceira cadeira de São Paulo no Senado é ocupada por Mara Gabrilli (PSDB). O emedebista e a tucana têm mandato até 2027.

O novo senador prometeu ao longo da campanha se esforçar por temas ligados à ciência e à tecnologia, com medidas para facilitar o acesso de jovens à educação profissionalizante e para promover o empreendedorismo. Ele evitou embates diretos com os adversários e buscou reforçar a conexão com o eleitorado bolsonarista, declarando-se conservador e defensor das famílias.

A vitória de Pontes, que até semanas atrás era considerada improvável, é uma derrota para França e seu padrinho Lula, que davam a conquista como certa. Para consolidar a aliança da esquerda no estado, o representante do PSB desistiu da candidatura a governador e apoiou o candidato do PT, Fernando Haddad, na briga pelo Palácio dos Bandeirantes.

A passagem do ex-astronauta pela legenda que tem o socialismo no nome foi um dos temas explorados na campanha por adversários seus à direita, que questionaram os supostos laços de Pontes com o campo rival.

Ele evitou o embate sobre o tema, mas já disse no passado que se filiou ao PSB a convite de Eduardo Campos (1965-2014), que foi ministro da Ciência e Tecnologia e conduziu as tratativas para sua viagem sideral. Além disso, afirmou que buscava um partido sem escândalos de corrupção e que sua entrada na sigla não teve “absolutamente nada a ver com a ideologia socialista ou comunista”.

Pontes é tenente-coronel reformado da Força Aérea. O envio dele à Estação Espacial Internacional em uma nave russa Soiuz foi patrocinado pelo governo Lula, que sofreu críticas por ter pago US$ 10 milhões (R$ 52 milhões hoje) por uma carona sem resultados científicos notáveis para o país. A pioneira viagem de um brasileiro ao espaço acabou virando arma de marketing do petista.

Na época, Pontes foi condecorado pelo governo, que lhe deu status de herói nacional, e chegou a ser descrito como garoto propaganda. O ex-astronauta afirmou, em um texto sete anos após retornar à Terra, que houve tentativa de distorcer “a imagem positiva da missão espacial como arma para atacar” Lula e que “o tempo, para os bem informados, já provou que tudo isso é pura calúnia”.

Na campanha para o Senado, bolsonaristas reclamaram da pouca ênfase do candidato a bandeiras ideológicas do presidente, mas mantiveram o apoio a ele devido à bênção de Bolsonaro. Embora a falta de combatividade tenha sido vista de forma negativa inicialmente, a militância abraçou Pontes e fez sua candidatura decolar.

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