Fabíola Cunha
Predador de topo do bioma da Mata Atlântica, a onça-pintada é mais uma vítima da ação humana. Estudo coordenado pelo pesquisador da Unesp em Rio Claro, Mauro Galetti, a partir de encontro de estudiosos realizado pelo Instituto Chico Mendes em Campinas, concluiu que existem na Mata Atlântica apenas 250 exemplares dessa espécie. Pior: a população de onças que efetivamente pode se reproduzir gira em torno de 50 exemplares. Esse bioma, que costumava se estender por toda a costa brasileira está reduzido a menos de 12% de sua área original, e encontra-se altamente fragmentado.
Galetti e a equipe publicaram na revista Science em novembro de 2013, não só dados, mas as consequências para a fauna e flora quando um predador de topo, caso da onça pintada, tem sua população drasticamente reduzida.
Não é apenas perda de um animal bonito e simbólico, mas de um elemento importantíssimo na rede intrincada e delicadamente harmônica existente em biomas como a Mata Atlântica: “A Mata Atlântica vai ser o primeiro bioma do mundo a perder seu predador de topo”, afirma Galetti.
E a perda não está marcada para daqui a milhares de anos: no mesmo ritmo de degradação do habitat e caça clandestina, em 50 anos a onça-pintada não será mais encontrada ali. Com pouquíssimos desses felinos caçando queixadas, capivaras e antas, a população dos herbívoros cresce, gerando consumo exagerado de plantas e sementes, que diminuem. No caso das capivaras, há ainda a proliferação de carrapatos que podem transmitir doenças perigosas, como a febre maculosa.
O biólogo, que trabalha no Departamento de Ecologia da Unesp, questiona também qual a ação a ser tomada para reverter esse quadro desanimador, mas as possibilidades já apresentam riscos iminentes: “O que fazer? Pegar animais de cativeiro e soltar onde não tem onça? Manejar a população em locais onde só tem uma ou duas onças? A gente corre o risco de piorar a situação”, pondera.
Região
Em outro trabalho no curso de Mestrado do departamento, os pesquisadores focalizam as espécies que ainda habitam nossa região (Ipeúna, Santa Gertrudes, Cordeirópolis, Iracemápolis, Corumbataí e Rio Claro).
Sem contabilizar vegetação plantada (caso da Feena, por exemplo), Rio Claro tem hoje 0,38% da vegetação original. Viveram e desapareceram na em Rio Claro e região antas, queixadas, o macaco monocarvoeiro, tatu-canastra e, claro, a onça-pintada.
Porém, em outro município, Iracemápolis (a 26 km de Rio Claro), foram fotografadas pela equipe de Galetti, duas onças-pardas (adulto e filhote), uma jaguatirica e antas. Assim como plantas rompem o asfalto para encontrar o sol, esses animais nascem, crescem e estabelecem seus territórios em fiapos de vegetação. Resta saber se a onça-pintada vai florescer no que resta de Mata Atlântica.
Neste mapa, é possível ver a área de mata nativa em verde escuro e em vermelho a área de mata exótica, que foi plantada (caso da Feena)