Ednéia Silva
Depois de nove anos no comando da Igreja Matriz de São João Batista, o padre Ronaldo Francisco Aguarelli está deixando Rio Claro para assumir a Catedral de Santo Antônio em Piracicaba, sua terra natal, de onde saiu há 30 anos.
Sua última missa como pároco da matriz será celebrada na terça-feira (20), às 19h30. Ele toma posse da nova congregação no dia 23 de janeiro, às 19h30. Em entrevista ao Café JC, o padre falou sobre a mudança, expectativas futuras e outros assuntos relacionados à Igreja Católica. A reportagem foi feita pelos jornalistas Edneia Silva e Wagner Gonçalves.
Jornal Cidade – Como o senhor analisa essas mudanças de paróquias que acontecem frequentemente para os padres? A criação de vínculo com os fiéis, que acontece somente com o tempo, não seria importante para o desenvolvimento do trabalho?
Padre Ronaldo Aguarelli – A igreja tem suas normas estabelecidas pelo direito canônico. O bispo se pauta por essas normas para definir as transferências levando em consideração diversas questões. Primeiro as necessidades da diocese e segundo o tempo de permanência do padre na paróquia que não pode ser superior a dez anos. Esses assuntos têm que ser vistos com naturalidade. Não é um castigo para o pároco e para a comunidade e sim uma necessidade. As transferências também são importantes para evitar o comodismo, tanto da paróquia quanto do pároco.
JC – Como o senhor se sente com a mudança e qual sua expectativa com a nova congregação?
Padre Ronaldo – Ansioso pelo medo do desconhecido, da mesma forma quando vim de Santa Bárbara para Rio Claro. Aqui, isso foi superado rapidamente porque fui muito bem acolhido pela cidade e pela comunidade. No momento, meu coração tem um sentimento de estranheza por deixar lugares e pessoas com os quais convivi por nove anos. Por outro lado, há a expectativa de retornar a Piracicaba como padre residente e assumir algo novo. Mas já estive na catedral e fui muito bem acolhido pelos conselheiros e pelo Padre Jamil. Estou indo com o coração aberto, pronto para trabalhar muito e estar cotidianamente presente na vida da comunidade.
JC – Que balanço o senhor faz de seu trabalho como pároco da Matriz de São João Batista?
Padre Ronaldo – Quando vim para Rio Claro recebi do bispo a missão de “rejuvenescer a Matriz de São João Batista” que historicamente tinha baixa frequência e um público mais velho. Acredito que cumpri essa missão através de um processo lento e gradativo. Os fiéis que estavam continuaram e foi acrescida uma parcela nova composta por famílias e jovens. Destaco a participação das pastorais e as missas de quintas-feiras que tem grande participação da comunidade. É uma missa de adoração, de ficar mais próximo com Jesus e de mudança de vida. Tem a quermesse, que hoje é feita de um jeito diferente de antes com a participação de muitos voluntários e doadores. E por último as conquistas materiais como as reformas da casa paroquial e do salão de festas.
JC – Hoje a Igreja tem, em sua grande maioria, fiéis mais velhos. Como fazer para atrair a juventude?
Padre Ronaldo – Esse é o grande desafio da igreja: atingir os jovens. A grande pergunta é: como atingi-los? Jesus é o mesmo e os padres têm que apresentar o mesmo Jesus de outras maneiras, com linguagem própria da juventude, usar os meios que os jovens usam. Precisamos ver mais as coisas positivas do que as negativas nos jovens.
JC – A Igreja encampou a luta para construir um hospital público em Rio Claro. Como o senhor analisa esse movimento e o envolvimento da Igreja em questões sociais?
Padre Ronaldo – Jesus estava envolvido em causas sociais. A Igreja é uma servidora de Jesus, se Ele fez temos que fazer também. Essas coisas não devem ser vistas com estranheza, mas com naturalidade porque o povo é muito carente e na carência eles gritam. Um grupo de pessoas se reuniu para buscar meios de aliviar o sofrimento das pessoas e criou o movimento pró-hospital. Não é um movimento do contra e sim uma mobilização para incentivar as pessoas a buscar seus direitos. Infelizmente tudo tem que ser feito por meio de pressão popular.
JC – Como o senhor avalia a postura da Igreja com relação ao segundo casamento e a uniões homoafetivas?
Padre Ronaldo – Nós estamos vivendo um momento de abertura. A igreja está inserida na sociedade e tem que se adequar às mudanças. Certos aspectos são imutáveis como aqueles relacionados à defesa da vida, a eutanásia e o aborto. Todas as formas de interromper a vida são questões fechadas. As outras situações a gente acolhe como os casais de segunda união e os casais homoafetivos, com carinho e respeito, mas sem deixar de dar um norte do que é comum. A Igreja é a casa de todos e ninguém pode ficar impedido de participar pela forma em que vive, mas existem graus de participação. Temos que estar abertos aos novos relacionamentos e aos novos tipos de família. Recentemente recebemos instrução para batizar as crianças dos casais homoafetivos se o batismo for solicitado. Todas as comunidades católicas têm casais de segunda união. Tenho excelentes casais de segunda união que ajudam na comunidade. É melhor acolher a pessoa do que rejeitá-la ou excluí-la.
JC – O senhor celebrava missas frequentadas por um grande número de fiéis nas noites de quinta-feira. Com a sua transferência, como ficam essas celebrações?
Padre Ronaldo – As missas de quinta-feira são algo próprio da minha atividade como pároco. Quem vai nessa missa percebe que ela é diferente da cerimônia dos finais de semana. Não posso obrigar o padre Antonio a fazer o que eu faço e da mesma forma, nem a comunidade deve exigir isso dele. Ele tem seus dons naturais, eu tenho os meus. O padre que vem é sábio e vai saber conduzir bem a situação.