A mastectomia é um procedimento cirúrgico que consiste na retirada total ou parcial da mama

Nos últimos 10 anos, 110 mil brasileiras se submeteram à mastectomia. Destas, 25 mil fizeram a reconstrução mamária

A campanha Outubro Rosa, lançada no início da década de 1990, em Nova York, Estados Unidos, é celebrada no Brasil e no exterior com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, a fim de contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o mais incidente nas mulheres (depois do de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. Estudos da Associação Americana de Câncer mostram que, se descoberto no início, o câncer de mama tem chances de cura de até 95%. Esse índice cai para até 50% se a neoplasia estiver em um estágio mais avançado.

Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a mastectomia (retirada parcial ou total da mama) é indicada em 70% dos casos de câncer de mama diagnosticados no país. Nos últimos 10 anos, 110 mil brasileiras passaram pela cirurgia. Destas, 25 mil fizeram a reconstrução mamária.

O cirurgião plástico Luís Maatz, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e especialista em Reconstrução Mamária pelo Hospital Sírio-Libanês; explica que a reconstrução mamária é uma cirurgia plástica reparadora para mulheres que se submeteram à mastectomia.

“O objetivo desse procedimento é reconstruir a mama retirada, buscando um resultado que leve em consideração o volume, a forma, a simetria e a aparência das mamas, ajudando na recuperação da autoestima, confiança e qualidade de vida da paciente”.

Maatz lembra que foi sancionada a Lei 14.538, que garante à mulher o direito de troca do implante mamário devido ao tratamento de câncer, se houver complicações. A norma altera a Lei 9.656/1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde, e a Lei 9.797/1999, que prevê a obrigatoriedade da reconstrução mamária pelo SUS nos casos de mutilação decorrentes do tratamento de câncer.

Por que fazer a reconstrução mamária?

De acordo com Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana); os seios são um símbolo de feminilidade, da identidade sexual e materna da mulher.

“Qualquer intervenção nessa área afeta a autoestima das mulheres, em um momento já intrinsecamente desafiador. Se não bastasse, a maioria precisa ainda lidar com as disfunções sexuais, de origem psicológica ou fisiológica, associadas à doença ou aos tratamentos”, diz a especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC).

Segundo ela, as disfunções mais relatadas são a queda da libido e o ressecamento vaginal, que geram muita dor durante a penetração e, consequentemente, a dificuldade em atingir o orgasmo. “Enquanto o sexo com penetração gerar desconforto, apostem em outros estímulos, explorem outras áreas potencialmente excitantes. Esse é um momento de incentivar novas formas de intimidade que promovam a redescoberta do corpo e do prazer”.

Um estudo realizado na Unidade de Oncologia do Santa Maria Goretti Hospital, na Itália, avaliou pacientes internadas com câncer de mama, abordando 3 aspectos: autoimagem, atividade sexual e satisfação sexual, antes e depois do diagnóstico e do tratamento. Quase metade (aproximadamente 49%) afirmou ter sentido algum efeito negativo na autopercepção e na vida sexual, enquanto pouco mais de 7% das entrevistadas mencionaram um impacto significativo nesses aspectos após o diagnóstico e durante o tratamento.

Quem realiza a mastectomia enfrenta um desafio ainda maior. “Não à toa, a reconstrução mamária é tida como aliada na recuperação da autoestima sexual da mulher. Até porque todas que passam por cirurgia de câncer de mama são candidatas para reconstrução mamária, uma vez que o tratamento leva a algum grau de mutilação, causando prejuízos psicossociais”, ressalta Claudia Petry.

Conforme a terapeuta, a satisfação de ter a mama reconstruída supera alguns inconvenientes, como a perda total ou parcial da sensibilidade na região (ao menos, nos primeiros anos). “Olhar no espelho e se ver novamente com seios traz de volta a segurança, a confiança em si e a autoafirmação como mulher. Aliás, muitas que superaram a doença acabaram se reinventando e melhorando o sexo com a parceria”.

Quais as principais técnicas realizadas

Segundo Luís Maatz, há vários tipos de reconstrução mamária, que vão utilizar diferentes técnicas. As principais são:

Reconstrução com prótese de silicone: Indicado principalmente para mamas pequenas e médias. “A vantagem deste método é que a recuperação é mais rápida. O tempo de internação hospitalar médio é 24 a 48 horas após a cirurgia, e o retorno às atividades ocorre em até 4 semanas”.

Expansor de mama: Normalmente, é realizada como uma etapa intermediária em cirurgias onde houve retirada de pele durante a mastectomia. De acordo com Luís Maatz, o expansor funciona como uma prótese vazia, ou parcialmente cheia, que é progressivamente preenchida com solução salina pelo cirurgião.

“Após atingir o volume desejado, o expansor é substituído por uma prótese de silicone. Por isso, essa é uma opção vantajosa para mulheres que querem aumentar as mamas”. Na cirurgia inicial, o tempo médio de internação é de 24 a 48 horas, e o retorno às atividades acontece em até 4 semanas.

Retalho do músculo grande dorsal: O médico utiliza esse músculo das costas com uma porção de pele. Na maioria dos casos, é necessário associar uma prótese de silicone para dar volume à mama. Porém, pacientes com excesso de tecido nas costas podem não precisar da prótese. “Já a cicatriz é estrategicamente planejada para ficar nas costas, escondida pelo sutiã, top ou biquíni”.

Retalho do músculo reto abdominal (TRAM): Luís Maatz revela que essa é a técnica mais sofisticada, já que resulta em uma mama com aspecto mais natural e com maior consistência ao toque. “Ocorre ainda a ressecção do tecido abdominal excedente, principalmente após uma gestação, melhorando o contorno da barriga. Além disso, a cicatriz fica discretamente na região inferior do abdome”.

Enxerto de gordura: Um dos métodos mais populares, ele permite a reconstrução total de mamas pequenas, a melhora do aspecto da pele danificada pela radioterapia, a correção de defeitos após outros tipos de reconstrução, entre outras vantagens.

“Por estas e outras razões, o enxerto de gordura é comumente indicado em alguma etapa da reconstrução mamária, além de resultar em cicatrizes mínimas e no retorno rápido à vida normal”, explica Maatz.

“Vale lembrar que a mulher pode passar por um período de ajuste emocional após a cirurgia. Assim como é preciso se adaptar à perda de uma mama, também é necessário tempo para se acostumar com os seios reconstruídos. Em muitos casos, a terapia sexual ajuda a normalizar este novo cenário”, diz Claudia Petry, que alerta ainda sobre a importância de a paciente alinhar suas expectativas com a equipe médica para garantir que a reconstrução mamária atenda aos seus anseios.

“É fundamental também constatar a experiência e a qualificação dos profissionais em suas regiões, verificando suas credenciais nos sites do Conselho Regional de Medicina do seu Estado, do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)”, finaliza o cirurgião Luís Maatz.

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