Ednéia Silva
Chegaram as chuvas e com elas o risco de infestação dos caramujos africanos. Sem predador natural e com excelente capacidade de procriação, os moluscos tornam-se praga urbana em períodos de chuva. Como não há inseticida eficiente para eliminá-los, a saída é fazer a coleta e destruição manual. No entanto, é preciso ter cuidado para evitar o contato com os moluscos, que são hospedeiros de vermes transmissores de duas doenças sérias: meningite eosinofílica (Angiostrongylus costaricencis) e angiostrongilíase abdominal (Angiostrongylus cantonensi).
Os vermes que transmitem a doença podem ocorrer tanto no interior do molusco quanto no muco que ele secreta. As formas de contágio são a ingestão do caramujo infectado; o consumo de verduras, frutas ou legumes contaminados com o muco; e manuseio do molusco sem proteção.
Solange Mascherpe, do IEC (Informação, Educação e Comunicação) do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Rio Claro, recomenda cuidado na hora de coletar os caramujos. Segundo ela, para fazer a coleta dos moluscos é preciso proteger as mãos com luvas descartáveis e também as mucosas para evitar a transmissão de doenças. Em hipótese alguma deve-se tocar nos caramujos com as mãos descobertas. Além disso, não se deve comer, beber e fumar durante a coleta.
Para atrair os caramujos e facilitar a catação, Solange orienta as pessoas a usarem cascas de frutas e legumes, estopas embebidas em cerveja ou leite e pedaços podres de madeira, que são usados como abrigos. As iscas devem ser colocadas em locais úmidos e frescos, protegidos da chuva e do sol, e verificadas diariamente.
Depois de recolher os caramujos é preciso colocá-los em dois sacos plásticos fechados. Depois de mortos, eles devem ser quebrados (com enxada ou pedaço de madeira) para evitar que suas conchas sejam indevidamente descartadas no meio ambiente e possam se transformar em criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. O descarte deve ser feito no lixo doméstico com os sacos bem fechados.
Outra alternativa para eliminar os caramujos é mergulhá-los em solução com uma parte de cloro para três de água, deixando-os submersos por cerca de 24 horas. Daí é só eliminar a água e descartá-los no lixo, com as conchas quebradas.
Solange observa que o uso de sal para matar os moluscos não é uma medida eficaz, porque não elimina as larvas e ovos, que podem eclodir, nascendo novos caramujos. Isso sem contar o perigo da salinização do lençol freático.
O Centro de Controle de Zoonoses destaca que os caramujos jamais devem ser colocados vivos no lixo, pois isso disseminará o problema sem eliminá-lo. O CCZ enfatiza ainda que, além das doenças que podem transmitir, os caramujos africanos atacam e destroem plantações e competem com outros moluscos da fauna nativa, podendo levá-los à extinção.
O caramujo africano foi trazido ao Brasil em 1988 para ser uma alternativa mais barata ao esgargot, mas não deu certo. Os brasileiros não se adaptaram à iguaria e não houve demanda de consumo. Com isso, o molusco foi deixado de lado e descartado de forma inadequada na natureza, tornando-se uma praga urbana.
JORNAL DA MANHÃ
Solange Mascherpe, do IEC (Informação, Educação e Comunicação) do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Rio Claro, falou ao Jornal da Manhã, da Rádio Excelsior Jovem Pan, sobre o assunto. Para conferir a entrevista na íntegra, basta clicar no player abaixo.