SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Centenas de segurados que buscaram atendimento nas agências do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) na capital paulista e na Grande SP na manhã desta segunda-feira (14) voltaram para casa sem conseguir resolver as pendências para ter a renda previdenciária.
Anunciada para ocorrer a partir desta segunda, a reabertura das agências em São Paulo foi barrada pela Justiça, após os servidores ingressarem com ação judicial pedindo suspensão da medida. Em sua defesa, os funcionários alegaram não haver segurança sanitária para retomar o atendimento. No restante do país, a reabertura foi mantida.
Em algumas agências, servidores voltaram a seus postos e orientavam os beneficiários sobre como deverá ser o atendimento. Em geral, os segurados recebiam a informação de que não haveria o atendimento esperado, mas que podiam tentar ser atendidos a distância, por meio do portal Meu INSS ou telefone 135.
O aposentado Irineu Bertazo, 74 anos, de Santo André, diz estar com o atendimento agendado há dois meses, após passar mais de um ano sem a renda previdenciária. “Estava agendado para 7h10 da manhã, tinha um monte de velhinhos, tudo esperando, mas fomos informados de que a Justiça decretou que tudo estaria fechado. Infelizmente, não fui atendido. Estou há um ano sem receber.”
Aposentado há mais de 30 anos, Bertazo conta que teve o benefício bloqueado após falta de prova de vida, e a situação se agravou com a pandemia de coronavírus. “Fui ao banco, fiz umas cinco vezes prova de vida, mas marcaram essa entrevista para hoje. Eu não entendo por que estava marcado e não fui atendido. Eu não entendo isso, estou revoltado, pois dependo do INSS. Estou sem renda, na casa do meu filho, que está me bancando”, diz.
A doméstica Neilce Rocha Fernandes, 53 anos, doméstica, tinha atendimento agendado na agência do Glicério, na região central da capital, para tentar reativar seu auxílio-doença, cortado no dia 27 deste mês. “Há mais de 15 dias que estava agendado. Liguei no sábado para confirmar e disseram que não estaria fechada”, conta.
Com diagnóstico de depressão por ter sido vítima de violência doméstica por anos, Neilce diz não entender o motivo de ficar sem atendimento. “Não deram uma solução nem estavam conversando direito. Eu penso assim: ‘se eles iam ficar com medo de reabrir, não deviam dar esperança para a gente’. Nada é fácil hoje em dia, está tudo muito difícil.”
O ajudante de serviços gerais Izaías Avelino Souza Lima, 34 anos, também tinha horário marcado para realização de perícia médica, voltada à concessão de auxílio-doença. Ao chegar na agência da Vila Mariana (zona sul), foi surpreendido ao saber que o atendimento foi suspenso.
“Estou desde fevereiro sem trabalhar e tentando receber o benefício e chego aqui e está tudo fechado. Como que vou fazer? Nem o auxílio emergencial consegui pedir, porque ainda estou com vínculo de trabalho, mas sem receber salário. Estou sem renda alguma”, queixa-se.
A doméstica Ema Aparecida Braga, 75 anos, está sem receber a aposentadoria desde novembro de 2019 e também tinha agendamento para a manhã desta segunda-feira. Ela diz não conseguir concluir o cumprimento de exigências pelos canais remotos e nem pelo serviço Exigência Expressa.
“Consegui esse horário e cheguei aqui com antecedência na esperança de resolver logo meu problema, agora disseram que não vai abrir. Vai fazer um ano que estou sem receber, só quero meu dinheiro.”
Adriano da Rocha, 39 anos, foi à agência da Xavier de Toledo, na região central da capital, com o cadeirante Sebastião Elói da Silva, 66 anos, que busca receber o benefício. Segundo Rocha, Silva não tinha atendimento agendado, mas como ficaram sabendo da reabertura, resolveram tentar. O segurado mora em um albergue.
“Ele está esperando benefício, deu entrada em março, só que aqui não está abrindo. Pegou um papel para ligar e vai entrar em contato”, afirma.
Antes da reabertura, porém, o INSS havia informado que só seriam atendidos segurados que estivessem com o atendimento agendado.
Na agência da Previdência Social em Itaquera (zona leste), o atendimento aos segurados que estavam agendados foi feito. A intenção dos funcionários do local era atender quem chegava lá até 13h, conforme havia sido anunciado na reabertura.
O INSS chegou a enviar aos segurados avisos de que não haveria reabertura. Os recados vão por SMS, e-mail ou Meu INSS, mas nem todos têm acesso ao aviso e, em muitos casos, segurados preferiram ir ao local para saber se realmente haveria suspensão do atendimento.
Em nota, o instituto informou que manteve os postos fechados “por força de decisão judicial”, afirmando que “a reabertura das agências do INSS em São Paulo foi adiada sem data definida para reabertura”.
Por fim, o órgão disse que vai recorrer da decisão e “espera que a Justiça entenda o caráter essencial do serviço prestado” pela autarquia.