Os irmãos Vanessa, Erik e Daniela junto com a mãe Rosinéia seguram a foto de seu Mário (Foto: Voo Propaganda / Foccus Fotografia)

Há 20 anos dona Rosinéia Aparecida Tomazela de Camargo e os filhos Erik, Daiane e Vanessa aprenderam a conviver com uma ausência única. Rosinéia perdeu de uma só vez o primeiro amor, o companheiro, o esposo e o pai dos filhos. Erik, Daiane e Vanessa o melhor amigo que tiveram: o pai.

Era o começo de um novo ano, tantos sonhos e planos: um deles a tão esperada festa de 15 anos da filha do meio. Seu Mário de Camargo tinha saído para mais um dia de trabalho. Era 16 de janeiro. Ele não chegou a voltar para casa.
A noite, na saída do trabalho, no Distrito Industrial de Rio Claro, foi parado de uma maneira brusca e inesperada. De motocicleta, acabou atingido por uma linha com cerol que não permitiu que ele seguisse em frente. Foi fatal.
O duro golpe tirou o chão de uma esposa e de três filhos ainda menores. Erik tinha 17, Daiane 14 e Vanessa 11 anos.

Segundo a filha do meio, naquele ano, o primeiro Dia dos Pais sem seu Mário foi o mais difícil até hoje: “Foi sofrido demais. Chegar na data e não ter ele ali presente foi algo que nem tem como explicar com palavras. No meu caso, pouco depois da data, foi quando fizemos a primeira festa sem ele e era o meu aniversário de 15 anos. Só aconteceu porque era algo que meu pai sonhava muito. No dia do acidente, antes de sair para trabalhar, ele pediu para minha mãe ir comigo escolher as lembrancinhas. Foi o último pedido dele. Estava muito empolgado. Foi nesse sonho dele, em me ver debutando, que realizamos a festa”, relembra Daiane que além de sobrenome do pai carrega hoje também o do esposo (Melhado). Ela se casou e no dia não deixou de prestar uma homenagem ao seu herói. Fez questão de levar um coração com as três letras (PAI) para o dia do tão esperado “Sim”.

Já o primogênito Erik sentiu com a pouca idade o coração tomado de uma responsabilidade imensa: “Por mais que a minha mãe estivesse ali como o nosso porto seguro, de uma certa maneira eu olhei para ela e para as minhas duas irmãs e vi que eu era o homem da casa agora. Só que ao mesmo tempo eu me perguntava: o que o meu pai faria agora? Era um misto de sentimentos onde minha cabeça tentava raciocinar as decisões e meu coração buscava respostas na vivência com meu pai para saber como ele agiria”, diz Erik.

Já a caçula Vanessa é algo que muito provavelmente essa reportagem não consiga expressar ao leitor em palavras. O depoimento dela, talvez pela data, embargou até mesmo as perguntas dessa jornalista. Não que ela sinta mais ou menos a ausência do pai, não é isso. Mas neste encontro era a que estava mais vulnerável às lembranças. Com lágrimas do começo ao fim ela começou dizendo: “Ele era muito alegre, muito presente. Ninguém ficava triste perto dele, animava tudo e a todos. Se eu busco ser um pessoa melhor todos os dias, se eu busco um exemplo para qualquer coisa que eu realizo eu lembro do meu pai. Ele me move em cada passo que eu sigo dando. Posso dizer que a dor ameniza mas a saudade ainda aperta muito e é por isso que eu e minha família o honramos todos os dias desde a sua partida”, afirma Vanessa.

Observando tudo, o depoimento dos três filhos, estava alguém de fibra: “Eu busquei essa minha força em Deus e na minha mãezinha do céu. Não existe pai melhor do que o Pai do Céu. Quando aconteceu o acidente, a morte do Mário, eu senti que arrancaram o meu chão mas Deus segurou a minha mão. Naquele momento eu olhei ao meu redor e não vi mais meu marido, o pai dos meus filhos, mas eu vi a minha família, três crianças, amigos, conhecidos e a minha fé para seguir. Não poderia ter feito diferente e sei que meu eterno companheiro me dá direcionamento de alguma forma”, conta dona Rosinéia.

Pensando no hoje, os filhos conseguem visualizar perfeitamente como seu Mário estaria e os três são unanimidade ao dizerem dos cabelos: bem grisalhos! “Tem um tio nosso, irmão do meu pai, que é a nossa referência sabe. Ao olharmos pra ele vemos ali um pedacinho do nosso pai e isso nos conforta demais. Eles tinham os mesmos gostos, eram bem parecidos mesmo”, conta Vanessa.

Neste domingo, se pudessem estar juntos novamente, os cinco escolheriam o sítio da família para passarem o Dia dos Pais: “São as melhores lembranças, como ele gostava de cada cantinho de lá. Outra paixão dele era nos levar para a praia do Tenório, em Ubatuba”, conta Daiane.

Como a presença física não é possível para um almoço em família, um abraço, a entrega de um presente, eles já sabem exatamente o que farão e mais uma vez pensam da mesma forma: “Sem dúvida a oração é uma forma de nos aproximarmos. A nossa família vê na fé uma força imensa. Hoje o ‘eu te amo’ para o meu pai será em silêncio por mais um ano mas essa frase grita alto no lugar que ocupa: o nosso coração”, revela Erik.

E para encerrar nada como o leitor mais uma vez ficar com as palavras de alguém que preferiu sobrepor os bons momentos vividos em cima da dor: “Se eu puder dar um conselho é que as pessoas aproveitem cada segundo ao lado daqueles que amam. Hoje é Dia dos Pais e se você ainda tem seu pai por perto aproveite. Foi o que eu e meus filhos fizemos ao lado do Mário. Valorize não só os grandes momentos mas os pequenos também. Diga bom dia, telefone, abrace enquanto é tempo porque a vida é um sopro. Para quem não tem mais o pai, honre a memória e guarde com carinho, assim como nós, o tempo em que viveram juntos”, finaliza.

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