Bruno Santos/Folhapress

MARCELO TOLEDO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Impulsionada pela circulação da variante P1 do coronavírus, Araraquara (a 273 km de São Paulo) registrou 89 mortes provocadas pela Covid-19 em apenas 16 dias, igualando o recorde mensal de óbitos desde o início da pandemia.


Março, que até esta terça-feira (16) já tem o mesmo número de mortes que fevereiro inteiro, deverá se tornar o mês mais mortal da doença na cidade do interior paulista até aqui, caso o cenário de registro de óbitos se mantenha.

Desde 10 de fevereiro -há 36 dias, portanto-, não houve um dia sequer sem o registro de mortes provocadas pelo vírus no município.


Depois de registrar 92 mortes em todo o ano passado, a cidade viu explodir casos, internações e óbitos a partir do final de janeiro, quando a nova variante começou a ser detectada.


De 24 mortes em janeiro, o total em fevereiro chegou a 89, praticamente o total de 2020 inteiro na cidade, marca que foi alcançada em apenas 16 dias neste mês.

Nesta terça, foram registrados cinco óbitos, entre eles o de uma jovem de 17 anos, que tinha comorbidades e estava internada num hospital particular desde o dia 19 de fevereiro. As outras quatro mortes foram de dois homens (de 50 a 58 anos) e duas mulheres (65 e 72 anos).


O cenário de avanço da variante, detectada a partir de estudo conduzido pelo IMT (Instituto de Medicina Tropical) da USP (Universidade de São Paulo), fez com que a cidade, governada pelo ex-ministro Edinho Silva (PT), decretasse lockdown de dez dias a partir de 21 de fevereiro.


Até postos de combustíveis foram fechados nos primeiros dias e supermercados só atendiam delivery –a mesma medida foi anunciada nesta terça pela Prefeitura de Ribeirão Preto.

O estudo analisou 57 amostras de secreção nasofaríngea coletadas de pacientes com Covid-19 em Araraquara entre 25 de janeiro e 23 de fevereiro e detectou que 93% delas indicaram a presença da nova cepa, que é mais transmissível.

“No setor privado, onde também trabalho, alas foram abertas, eram internadas 10, 15 pessoas por dia. O que antes internava em duas semanas passou a ser internado em um dia. Houve casos de mandar direto do consultório para internação. Foi uma avalanche”, disse o pneumologista Flávio Arbex, diretor do centro de ensino e pesquisa da Santa Casa e docente da Uniara.


De acordo com ele, a circulação da cepa detectada em Manaus gerou sobrecarga de trabalho a todos os profissionais de saúde na cidade. “Os dias ficaram cada vez mais longos e, as noites, cada vez mais curtas.”


O lockdown foi responsável pela redução de novos casos em Araraquara, mas internações e óbitos ainda não caíram. Para Arbex, a redução da pressão começará a ser sentida primeiro em leitos de enfermaria.
“A pressão por UTI [Unidade de Terapia Intensiva] existe e, como as mortes são um marcador tardio, o número de vagas de UTI vai demorar muito ainda [para cair]”, disse.


Araraquara tem nesta terça-feira 195 pacientes internados, dos quais 124 estão em leitos de enfermaria e 71 em UTIs. A ocupação de leitos intensivos está em 96%.

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