GIOVANNA BALOGH
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No fim de ano, são inevitáveis certos exageros quando o assunto é alimentação nas confraternizações e nas ceias de Natal e de Ano-Novo. Mas, dá para curtir, comer de tudo e consumir bebidas alcoólicas com moderação. Segundo nutricionistas ouvidas pela Folha, o mais importante é ter uma boa relação com os alimentos durante o ano todo para comer sem grandes preocupações.
A nutricionista Fernanda Timerman, idealizadora do Instituto Nutrição Comportamental, diz que é preciso tentar fazer as pazes e aceitar que é normal ter exageros nesta época. “Estamos habituados a operar na gangorra do 8 ou 80, dieta ou jaca, hiperfoco ou desatenção. Se aprendermos que o caminho do meio é uma possibilidade ao longo de todo o ano, quem sabe não chegamos menos dicotomizados no final dele e não precisamos repetir esse ciclo”, sugere a especialista.
Timerman explica que dá para comer de tudo e que vale negociar com a sua mente que você tem essa liberdade. “Sempre se pergunte antes: o que parece estar mais gostoso e vai satisfazer minha fome e me dar prazer? O que não parece estar tão gostoso, que eu posso renunciar hoje e comer em outro momento? Para os doces, é a mesma ideia.”
A nutricionista maternoinfantil Juliana Rebelo afirma que é importante nessas celebrações valorizar os momentos e as pessoas que estão lá, como os amigos e familiares ao redor da mesa. “Para comer bem, sem exagerar, é necessário estar presente e consciente do que você está fazendo naquele momento. Na hora de comer, apenas coma. Sem julgamento, sem culpa, sem pensar no passado ou no futuro. Aprecie cada garfada.”
Rebelo sugere que as pessoas façam uma pausa e um exercício para não comer no automático. “Como é a textura daquela comida na sua boca? É quente ou gelado? Macio ou crocante? Para onde esse sabor te leva? Comente com as demais pessoas que estão com vocês. Falem sobre receitas, modo de preparo, ingredientes. Quando comemos rápido demais, quando estamos ansiosos e eufóricos, não notamos o essencial de cada prato. E aí, vem o exagero.”
A nutricionista maternoinfantil dá uma dica do que fazer. “Respire fundo por três vezes e se observe. Coloque seus dois pés no chão. Sente-se confortavelmente. Faça uma oração ou um agradecimento. Tenha pensamentos positivos. Tenho certeza de que a experiência será muito diferente e maravilhosa.”
As sobras da ceia Timerman diz ainda que no dia seguinte sempre tem as sobras da ceia e que uma alternativa é um dia experimentar alguns pratos e, no dia seguinte, outros.
“Já quando falamos em consumo de bebidas alcoólicas, intercale sempre com água. E, é claro, é importante entender o seu limite e identificar quando você passa dele, prestando mais atenção às sensações físicas mais sutis. Quando você passa do ponto, não fica desagradável só para você, esse é um bom lembrete”, aconselha.
Para a especialista, o pior das ceias de Natal e do Ano-Novo é a sensação de culpa ao comer, a falta de atenção aos sinais do seu corpo e o pensamento “tudo ou nada”.
Rebelo observa que as pessoas comem mais nesta época, pois ficam seduzidas com a variedade disponível e querem provar de tudo. “Cuidado com a culpa exacerbada. A necessidade de querer fazer exercício para compensar também não adianta. Algumas pessoas chegam até a fazer jejum no dia seguinte. Qualquer uma dessas práticas pode desencadear distúrbios alimentares. Aproveite o momento e coma com atenção plena.”
Quem tem um comer mais intuitivo, ou seja, que não tem mentalidade de dieta, tende a ter menos exageros em situações sociais.
“A permissão de comer de tudo faz diminuir a vontade de comer tudo, pense nisso”, afirma Timerman. “E, se você vive nessa dicotomia angustiante, te convido a considerar fazer um trabalho de mudança de comportamento alimentar, com nutrição comportamental, que leva em consideração os aspectos culturais, emocionais e sociais da alimentação para além da questão biológica, que também é contemplada em uma princípio de uma nutrição mais gentil.”
Como fica a alimentação das crianças nas ceias de Natal e do Ano-Novo? As nutricionistas explicam que a alimentação dos pequenos deve ser vista da mesma forma que para os adultos. “É importante manter uma certa rotina alimentar e não impor proibições, evitar chantagens e associações negativas com a imagem corporal. O melhor exemplo são as atitudes, e cuidadores que têm uma relação mais tranquila com a comida transmitem isso, mais do que tentar educar por palavras”, diz Timerman.
Rebelo orienta a sempre trabalhar com previsibilidade e rotina para os pequenos. “Explique com antecedência para a criança como vai ser o dia da família. Se vão jantar mais tarde, pode ser que as crianças fiquem cansadas e optem por comer outra coisa antes. Por isso, é necessário que as outras refeições do dia tenham estrutura, planejamento e os nutrientes que aquela criança necessita de acordo com a sua faixa etária. “É bacana as crianças, principalmente os maiores, participarem dos rituais e comerem junto com os mais velhos”, sugere.