Nas décadas de 60 e 70, moradores de Rio Claro que precisavam comprar roupas e enxovais não precisavam ir até o comércio. Bastava esperar a passagem de Filippo Cusmano, o Italiano, que percorria as ruas da cidade com sua mala de variados produtos. O comércio foi a saída encontrada para sustentar a família assim que chegou ao Brasil, em 1959, juntamente com a esposa Nunziata e os filhos Celestino, Anna e Ignazio, ainda pequenos. Já instalado em Rio Claro, o casal teve mais um filho, Vitorio.
Nascido em Regalbuto, na Sicília, Filippo seguiu a trajetória de muitos outros imigrantes italianos que fugiram da Itália devastada pela Segunda Guerra Mundial. De trem, ia até São Paulo comprar as roupas para revender em Rio Claro. De início, percorria as ruas a pé. Conforme o tempo foi passando e a situação financeira da família foi melhorando, comprou a primeira bicicleta, na sequência um jipe. “Meu pai ia até Ajapi, na época chamada Morro Grande, e também às cidades vizinhas, como Corumbataí, Araras e Leme. De início, teve medo de não conseguir se comunicar, pois não falava português. Foi então que aprendeu a dizer “roupa bonita e barata” e achou a solução”, relembra o filho Celestino num misto de tristeza pela perda do patriarca, mas com a alegria da lembrança dos bons momentos vividos.
O talento para o comércio foi transmitido aos filhos, que desde muito cedo, ainda adolescentes, também se lançaram na aventura das vendas. “Enquanto eu acompanhava meu pai, Ignazio conquistou sua própria clientela, vendendo produtos como esmaltes e pentes, de bicicleta, por toda a região da Vila Nova”, relembra Celestino, que logo também passou a empreender, no mesmo estilo do irmão, porém na região que ia da Vila Paulista ao Bairro do Estádio, chegando até a Assistência.
A primeira casa da família, na Rua 3-A, na Vila Alemã, também era ponto de vendas comandado por dona Nunziata. Na segunda casa que construiu, na Rua 9-A, Filippo já providenciou um salão comercial. O grande salto aconteceu em 1981, com a construção da atual sede da Loja Nossa Senhora do Rosário, na Rua 9-A, hoje administrada pelos filhos Ignazio, Celestino e Vitorio. Anna ficou com o setor de presentes, na loja em frente, a Belli Ricordi. “Meu pai sempre foi uma pessoa de muito trabalho, exemplo de honestidade, que ensinava através das próprias atitudes”, define Celestino.
A morte de Filippo, devido às complicações de um AVC, foi lamentada pela grande quantidade de clientes e amigos conquistados ao longo de décadas de trabalho. Moradora do Bairro do Estádio, Lourdes Raiz comprava roupas com o Italiano desde 1967. “No início, comprava para meus sete filhos, que ainda eram crianças. Depois virei cliente da loja e até amiga da família. Fiquei muito triste com a morte do Filippo. Nos momentos mais tristes, como quando meu filho faleceu, a família Cusmano esteve ao meu lado”.