Adriel Arvolea
Inaugurado no século XIX, a área do Jardim Público reúne as Praças XV de Novembro e Tenente Otoniel Marques Teixeira. Ostentando um amplo espaço verde, suas características paisagísticas tornam o local com aspecto de bosque. Em seu valor histórico-cultural, monumentos de autoria do artista Vilmo Rosada remontam à história da cidade e do País, recriando cenários e ambientes em seus quase 20 mil metros quadrados.
Mas as características que tornam a praça peculiar acabam se perdendo com a correria do dia a dia. A insegurança, também, é outro fator que afasta os frequentadores, principalmente no período noturno. A presença de moradores de rua e garotas de programa motiva queixas recebidas pelo Jornal Cidade. Na discussão sobre o assunto, até que ponto essas interferências urbanas são prejudiciais aos que ali frequentam, ou descaracterizam o local?
Questionada, a publicitária Anita Morais, que mora nas proximidades, não sabe se as ‘meninas’ incomodam. Fala das ‘meninas’, das prostitutas que pontuam o Jardim Público, que talvez causem incômodo pelo desenho corporal. “Vejo-as pousando como estátuas vivas lutando pela sobrevivência diária, assim como outros que ocupam a grande praça o fazem”, opina Anita. “Por que estão ali e não em outro lugar? Porque querem e devem ser vistas. Assim como as mercadorias dos camelôs”, completa.
A publicitária lança, ainda, uma provocação: o que incomoda de fato nas meninas?. “Penso que o descaso. A hipocrisia. O faz de conta. A dúvida. O anonimato. As provocações, que por alguns segundos nos conectam com as camadas quase invisíveis da sociedade”, justifica. Em contrapartida, volta o olhar para o que realmente incomoda no espaço público, como as ações urbanas realizadas sem a preservação da sua história e valor cultural.
“Quem sabe neste momento passemos a nos incomodar com as agressividades e interferências mais definitivas que foram ao longo do tempo sendo incorporadas ao Jardim Público, como: o banheiro público, os postes e fiação aérea, a cabine de energia, o laguinho da Diana e a proliferação dos camelôs. E no lugar destes apêndices absorvidos, que demonstram claramente a falta de cuidado e respeito com os espaços públicos, venhamos a exigir calçadas conservadas com pisos recuperados, iluminação adequada, segurança, limpeza e cuidados com os canteiros e árvores”, sugere Anita.
O frequentador do Jardim Público, José Silvério Lima, se diz um pouco desconfortável com a presença dos moradores de rua e garotas de programa, uma vez que a situação prejudica o conceito familiar de uma praça. “A cidade cresceu, óbvio. Mas, não é admissível o estado de abandono em que se encontra o Jardim Público. Não há um controle sobre isso. São moradores de rua, garotas se prostituindo e daqui a pouco o que será?”, indaga.
Frente às reclamações de frequentadores, a Prefeitura informa que tem realizado atividades no Jardim Público com o objetivo de atrair a comunidade para aquele local e preservar um dos cartões postais da cidade. Em relação aos moradores de rua, a administração afirma que oferece atendimento por meio de assistentes sociais, que prestam orientações e disponibilizam encaminhamentos de acordo com as necessidades identificadas em cada caso.