Folhapress
Um meteorito de 26,93 kg passou seis anos servindo de adorno de mesa em uma casa no município de Nova Olinda, no sertão da Paraíba. Dois irmãos encontraram a rocha sem saber do que se tratava até passar por um período de estudos.
No sábado (19), o fragmento, que se estima ter mais de 4,5 bilhões de anos, foi oficializado e classificado pela Meteoritical Society, associação americana responsável pelos registros de meteoritos no mundo.
Os irmãos Edsom Oliveira da Silva e João Jarbas Oliveira da Silva foram os responsáveis por encontrar o meteorito em novembro de 2014. Edsom é proprietário de uma joalheria e trabalha no ramo há 32 anos.
Ele conta que, assim como o irmão, tem “espírito aventureiro” e gosta de ir em busca de pepitas de ouro. Foi numa dessas aventuras, em um lago de sua fazenda, no sertão paraibano, que encontrou o meteorito, que agora se chama Nova Olinda, em homenagem à cidade.
No dia do achado, conta Edsom, eles carregavam um equipamento que detecta metais no solo. Ao passarem por uma certa área, o instrumento disparou, fazendo a dupla parar para olhar o que havia ali.
“Ele [o equipamento] não é tão potente, mas disparou. Falei para o meu irmão: ‘É estranho’. Pegamos a picareta, cavamos e encontramos uma pedra que não era tão grande”, lembra. “Tiramos e lavamos. Nos deparamos então com uma pedra diferente das que eu encontro e levamos para casa.”
Ao levar para sua casa, Edsom diz ter notado que a rocha brilhava muito. “Eu coloquei em cima da mesa da cozinha e ficou como adorno por seis anos”, conta. A aparência, ele recorda também, fazia com que as pessoas que chegavam à casa perguntassem do que se tratava.
“As pessoas pegavam e diziam que não davam conta de segurar a pedra. É pesada, o que é uma característica dos meteoritos.”
Passados quase seis anos, após assistir a notícias sobre uma chuva de meteoritos em Santa Filomena, município de Pernambuco, em 2020, Edsom percebeu que o adorno de sua mesa poderia não ser uma rocha simples.
A partir daí, foi em busca de especialistas na área, até encontrar André Moutinho, pesquisador e colecionador de meteoritos. Em contato com ele, o joalheiro informou sobre o achado e com isso foi orientado para a realização de testes.
“Ele [André Moutinho] me pediu para comprar uma serra e testar [fazer um corte na rocha]. O metal cegou a serra. Ele disse então que tinha tudo para ser [um meteorito]”, narra. “Daí fizemos um último teste com um ímã e deu certo.”
Para fazer uma análise do meteorito, foi montada em seguida uma equipe com pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto, Universidade de Campinas, Universidade de São Paulo e também da Universidade de Alberta, no Canadá.
Em sua composição, o meteorito Nova Olinda tem níquel, cobalto, cromo, irídio, gálio, germânio, platina, cobre, ouro, paládio, prata e tungstênio.
Agora, após a oficialização, o achado está à venda, mas os irmãos querem que permaneça na Paraíba, por ser o estado de origem. Edsom não quis informar o valor esperado. Disse apenas que está vinculado aos custos para tornar oficial sua classificação.
Não há lei específica que trate de comercialização de meteoritos. Ainda tramita na Câmara dos Deputados projeto de lei de autoria do deputado federal Alex Santana (Republicanos-BA) que define de quem é a propriedade daqueles que atingem o solo brasileiro. A proposta prevê que o meteorito pertencerá ao proprietário do imóvel em que cair.
O governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Educação, informou que participou de uma reunião com representantes da Associação Paraibana de Astronomia e “recebeu a proposta de que o Estado adquira o meteorito pelo valor R$ 50 mil”. “A proposta está sendo analisada.”
A descoberta tem grande impacto para o estado, segundo o presidente da Associação Paraibana de Astronomia, Marcelo Zurita.
“A Paraíba não tem muita tradição na área de meteoritos. A gente tem aqui alguns poucos colecionadores de meteoritos, mas de forma particular. A gente não tem, por exemplo, uma exposição de meteoritos no estado, pesquisadores desta área por aqui. Isso tudo torna ainda mais importante essa rocha ficar aqui na Paraíba”, diz.