ALEX SABINO – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Paolo Rossi se surpreendeu com quanto era odiado no Brasil. Ele chegou a São Paulo em 1989 para jogar a Copa Pelé, torneio de veteranos organizado pelo narrador Luciano do Valle (1947-2014).

Relatou ter sido maltratado por taxistas e foi vaiado impiedosamente cada vez que pegava na bola de uma competição amistosa.

O artilheiro italiano, morto nesta quarta-feira (9), aos 64 anos, foi o inimigo número um do povo brasileiro durante boa parte dos anos 1980.

Seus três gols que eliminaram a seleção de Telê Santana no Mundial de 1982 ainda povoam a imaginação dos torcedores que assistiram à partida que ficou conhecida como “A Tragédia do Sarriá”.

Não por acaso, quando publicou sua autobiografia na Itália, em 2002, o título foi: “Ho fatto piangere il Brasile” (Fiz o Brasil chorar).

A causa da sua morte não foi divulgada. Segundo o jornal italiano La Gazzetta dello Sport, o ex-atacante tinha uma doença incurável.

Paolo Rossi foi o primeiro jogador da história a ser, no mesmo ano, artilheiro da Copa, campeão e eleito para receber a Bola de Ouro, o troféu oferecido pela revista francesa France Football para o melhor jogador da temporada. Depois dele, apenas o brasileiro Ronaldo atingiu esse feito, em 2002.

Ele conseguiu tudo isso em 1982, na Espanha. Seus seis gols foram fundamentais para a Itália conquistar seu terceiro título mundial.

Na época, a Bola de Ouro era o equivalente a ser escolhido o melhor do mundo. A Fifa ainda não havia criado sua própria premiação.

Um atacante de área por excelência, Rossi se divertia mesmo anos depois quando perguntado sobre o que o técnico da seleção italiana, Enzo Bearzot, havia lhe dito depois de sua atuação no Sarriá.
“Nada. Ele não me disse nenhuma palavra”, resumiu.

Paolo Rossi mudou os rumos do futebol brasileiro. Seus três gols fizeram nascer a discussão no país quanto a jogar bem, mas perder, ou fazer todo o possível pelo resultado, mesmo que para isso seja necessário ficar na retranca.

Até antes daquela tarde no estádio em Barcelona, o atacante havia feito quatro jogos sem marcar nenhum gol na Copa do Mundo de 1982. Depois do Brasil, anotaria mais dois contra a Polônia e um na final, diante da Alemanha. Foi uma reviravolta para uma Itália que não havia vencido nenhum jogo na fase de grupos e tinha se classificado com três empates.

O elenco comandado por Enzo Bearzot vivia em guerra com a imprensa desde o início do torneio.

“Sinto cheiro de esterco vindo de fora”, gritou o lateral Antonio Cabrini para os jornalistas que esperavam os jogadores saírem do vestiário após o triunfo contra o Brasil. A maior revolta era com a divulgação de boatos sobre a vida pessoal de alguns jogadores. Paolo Rossi entre eles.

O título na Espanha foi o momento de redenção também para o atacante. Ele havia sido suspenso por dois anos por envolvimento no escândalo de apostas clandestinas no futebol italiano entre 1979 e 1980. Por causa disso, ficou fora da Eurocopa-1980 e voltou a jogar a menos de dois meses do Mundial de 1982, em 29 de abril.

Revelado pela Juventus, em 1973, Rossi teve problemas com sucessivas lesões em seus primeiros anos. O momento em que explodiu no futebol foi durante empréstimo para o Vicenza, quando foi artilheiro da Série B na temporada 1976/77 e levou o time à elite com 21 gols.

Convocado para a Copa do Mundo de 1978, fez três gols. Com nove marcados no total, é o maior artilheiro italiano em mundiais, ao lado de Christian Vieri e Roberto Baggio.

Depois do título mundial com sua seleção, em 1982, conquistou mais duas ligas nacionais com a Juventus e, em 1985, fez parte do elenco vencedor da Copa da Europa, a atual Champions League. Ele ainda atuou pela Hellas Verona antes de encerrar a carreira em 1987.

Após pendurar as chuteiras, Rossi se aventurou na política e como dirigente, sem sucesso. Tentou se eleger para o parlamento europeu em 1999 e, no ano seguinte, para a presidência da liga de futebol feminino na Itália. Não venceu nenhum dos pleitos.

No centenário da Fifa, em 2004, foi incluído na lista dos 125 melhores jogadores da história.

Na última década, trabalhou como comentarista dos canais Mediaset, Sky e Rai. Rossi deixa a mulher, Federica, e três filhos: Alessandro, Maria Vittoria e Sofia Elena.

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