SHEYLA SANTOS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Só 14% dos membros de conselhos de administração no Brasil são mulheres, segundo levantamento feito pela consultoria de recrutamento Korn Ferry. Apesar de baixo, o percentual é o dobro do observado em 2014 (7%).


A pesquisa, que é feita desde 2013, analisou 639 cargos em 81 empresas no ano passado.


Considerando apenas os membros independentes dos conselhos, o percentual observado em 2020 sobe para 20%, avanço significativo quando comparado com os 11% registrados apenas dois anos antes.


Apesar do avanço, o Brasil ainda está muito atrás dos EUA, onde a taxa de mulheres em conselhos é de 25%. Na Europa, esse percentual é ainda maior (30%).


De acordo com Jorge Maluf, analista sênior da consultoria, a atuação feminina tem crescido em todos os perfis de conselhos de administração, mas o percentual é mais representativo entre membros independentes, aqueles que não são ligados aos proprietários das empresas.


Maluf destaca que o aumento da presença de mulheres, principalmente em assentos de independentes, acompanha a tendência de maior profissionalização e governança nesses espaços. Em 2014, 4 em cada 10 conselheiros no Brasil eram independentes. Em 2020, esse número subiu para 6 em cada 10.


“As empresas não estão indicando mais mulheres de grupos de controle, ou seja, mulheres que são membros da família. Elas estão buscando mulheres no mercado”, afirma. “Em casos de recrutamentos de conselheiros, os clientes têm nos pedido para selecionar mais mulheres.”


Segundo o levantamento, há mais mulheres em conselhos de empresas com receita líquida acima de R$ 15 bilhões, capital pulverizado e melhores práticas de governança.


Entre os conselhos analisados pelo levantamento, apenas três mulheres atuam como presidente -Luiza Trajano (Magazine Luiza), Ana Maria Marcondes Penido Sant’Anna (CCR) e Patricia Bentes (Melhoramentos).


Das três presidentes, Bentes é a única conselheira independente. Desde 2016, ela já passou por oito conselhos de empresas como Light, CEG, Renova, Cemig e Vale e, atualmente, preside o conselho da Melhoramentos, que atua nos segmentos de papel e celulose, editorial e imobiliário.


A executiva diz que escolhas cada vez mais técnicas favorecem a entrada de mulheres nesses espaços. Para ela, a entrada de Maria Silvia Bastos Marques na presidência do BNDES, em 2016, foi um divisor de águas na participação feminina em conselhos no Brasil.


“Ela estabeleceu que nenhum conselheiro indicado pelo BNDES nas suas investidas seria funcionário, indicado político ou teria vinculação ao banco. Todos deveriam ser independentes. Naturalmente, quando se começou a buscar um profissional com formação para o conselho, apareceram mais mulheres.”


Além da maior participação de mulheres, outro desafio para os conselhos é a diversidade racial. Para mudar esse quadro, um grupo de nove mulheres, três das quais negras, formou o Conselheiras 101 -Ana Beatrix Trejos, Ana Paula Pessoa, Elisangela Almeida, Graciema Bertoletti, Jandaraci Araujo, Leila Loria, Lisiane Lemos, Marienne Coutinho e Patrícia Molino.


Entre agosto e dezembro, a iniciativa organizou dez encontros de capacitação com 20 lideranças negras. Desse grupo, quatro passaram a ocupar cargos em conselhos -Roberta Anchieta (membro do Conselho fiscal da Ânima); Ana Fontes (Plan internacional e Instituto Avon); Lisiane Lemos (Kunumi e Conselho Emérito do Capitalismo Consciente Brasil) e Jandaraci Araujo (Kunumi e CIEE-SP).


Executiva da área de sustentabilidade, Jandaraci Araujo é uma das mulheres negras cofundadoras do Conselheiras 101. Em 2020, ela tanto formatou o projeto quanto participou das mentorias e já está organizando a segunda edição do treinamento prevista para o meio do ano.


“O IBGC [Instituto Brasileiro de Governança Corporativa] e a WCD [Women Corporate Directors] têm um programa de diversidade em conselhos. Na época, eles publicaram fotos das turmas anteriores, e só havia mulheres brancas. Questionamos, e hoje eles são nossos parceiros junto com a consultoria KPMG. Passamos a trabalhar com o objetivo de mostrar ao mercado que existem mulheres negras qualificadas para estarem em conselhos”, afirma.

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