Médica que acompanha o caso acredita que menina de três anos que não era alimentada pelo pai não aguentaria mais muitos dias
Segue internada na Santa Casa de Rio Claro a criança de apenas três anos de idade que foi resgatada na última sexta-feira (2) após ser encontrada em um apartamento no Jardim Portugal na companhia do pai, que afirmou que não alimentava a filha por pelo menos 40 dias.
Na tarde de ontem, terça-feira (6), a reportagem do Jornal Cidade esteve no hospital e conversou com uma das médicas que acompanham a criança. A pediatra Dra. Flávia Meneguetti falou da recuperação da vítima e que em 20 anos de profissão nunca presenciou um caso como este.
JC: A criança tem apresentado uma resposta positiva ao tratamento?
Dra. Flávia: “Surpreendentemente ela tem respondido de uma maneira muito positiva desde o início da internação. Passou a aceitar alimentação até rápida e com boa tolerância, sem nenhum efeito colateral. A gente sabe que nestas situações de privação alimentar prolongada o reinício da alimentação tem que ser gradual, porque existem riscos de algumas alterações metabólicas. Mas de uma maneira geral toda a equipe médica está bem otimista”.
JC: Que tipo de comportamento a criança apresenta após tanto sofrimento?
Dra. Flávia: “No início, ela estava bastante assustada, pouca interação social. Agora ela está um pouco mais habituada, mas o que a gente observa é que talvez fique uma sequela, algo para se cuidar a longo prazo que é a parte da linguagem, social, que a gente não sabe até onde pode ter sido algo agudo pela privação alimentar ou talvez aí uma negligência emocional que já possa ter acontecido ao longo dos anos. É importante dizer que já pedimos avaliações com psicólogos, fonoaudiólogos, porque ela ainda não fala. Em relação à parte motora, a criança agora está voltando a ficar de pé e caminhando com ajuda e apoio”.
JC: Ela chegou aqui com 8 quilos, isso é metade do que ela deveria pesar?
Dra. Flávia: “Praticamente isso. Ela deu entrada com 40% do peso ideal. Isso é classificado como uma desnutrição marasmática aguda”.
JC: Alguma vez já tinha atendido um caso parecido com esse?
Dra. Flávia: “Nessa situação de privação por um familiar, negligência, não. Já cheguei a ver alguns casos de anorexia em pacientes adolescentes ou doenças crônicas que podem levar a essa situação, mas como desta menina, neste extremo, foi a primeira vez em quase 20 anos de pediatria”.
JC: Além da equipe multidisciplinar que está acompanhando a criança na Santa Casa, quem mais está com ela?
Dra. Flávia: “A avó materna, que eu acredito que agora detém a guarda”.
JC: O pai chegou em algum momento a procurar o hospital?
Dra. Flávia: “Que a gente saiba, não”.
JC: Alguma previsão de alta para a criança?
Dra. Flávia: “A gente acredita que nos próximos dias. Como ela tem respondido bem, de maneira positiva, ela poderá ir para casa. Queremos estar certos de que ela não terá nenhuma intolerância à alimentação e também da questão social. A ideia é continuar o acompanhamento depois da alta e, principalmente por tudo o que ela passou, nós temos essa intenção”.
JC: Acredita que ela aguentaria por mais quanto tempo a situação de falta de alimentação?
Dra. Flávia: “Não dá para precisar o tempo, mas talvez questão de dias. Não muito mais. Ela foi resgatada no limite já”.