19 milhões é o número de brasileiros que passaram fome durante o primeiro ano da pandemia do coronavírus. Pesquisa realizada entre outubro e dezembro do ano passado mostra que mais de 116 milhões de pessoas conviveram com algum grau de insegurança alimentar no período.
Ou seja, mais da metade dos domicílios brasileiros sofreu algum tipo de privação. Segundo o estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, o índice exato de famílias nessa situação chegou a 55,2%.
A conclusão, porém, é de que o aumento da fome no Brasil já vinha se acelerando antes mesmo do período pandêmico. Entre 2018 e 2020 a alta foi de 27,6% ao ano. Entre 2013 e 2018, esse ritmo não passava de 8%.
Não é de agora que o alerta sobre o problema passou a ser preocupação de organizações e movimentos sociais. Em 2018, a ActionAid já chamava atenção para as consequências do empobrecimento acelerado da população.
A pandemia, entretanto, demonstra ter agravado o quadro, que fica ainda mais crítico quando se analisa a situação de famílias desestruturadas, compostas por pessoas de pouca escolaridade ou qualificação profissional deficitária.
As restrições impostas por sucessivas e quase sempre insuficientes quarentenas fecharam muitas empresas, especialmente no setor de serviços, além de terem inviabilizado muitas ocupações informais.
Aos 35 anos, desempregada e divorciada, Isabel Cristina da Silva, que tem apenas o ensino fundamental, é mãe de cinco filhos com idades entre 10 meses e 15 anos. Para garantir o sustento da família durante a pandemia, ela revende produtos de limpeza em casa. Antes, trabalhava como catadora de recicláveis.
Isabel, personagem da ‘Reportagem da Semana’, é uma das mais de 11 milhões de mulheres no Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que são chefes de família e lutam para sobreviver.
Mães solo, como são chamadas as únicas ou principais responsáveis pela criança, elas, que já viviam uma rotina complicada para criar os filhos, hoje se encontram numa situação ainda pior.
Na geladeira do apartamento alugado onde mora no Jardim das Nações I, havia feijão, um pacote de molho de tomate e garrafas com água. No armário, uma caixa de leite, um litro de óleo e vários potes vazios.
Isabel contou ao Jornal Cidade que precisa de doações para dar de comer aos filhos. A única renda que tem é do Bolsa Família, do governo federal, no valor de R$ 518, que serve para pagar o aluguel.
“Sou sozinha para cuidar deles. Para alimentar, pagar outras contas de casa. Precisei vender a televisão deles [filhos], uma outra geladeira. Tive que optar por isso, pois meu bico não é mais suficiente. Necessito de leite, fraldas e cobertores para esse inverno”, explicou.
Isabel não quer viver só de doação. Ela pediu uma oportunidade de emprego. “Alguém que tem uma condição melhor poderia me dar um emprego. Sou faxineira, já trabalhei como porteira, cuidadora de idosas. A força que tiro vem de Deus. Se não fosse Ele, já não estaria mais aqui”, disse. Para falar com Isabel basta ligar no número (19) 99860-0692.
‘Preciso de ajuda para trazer minha dignidade de volta’
Dados do IBGE mostram que, em 2020, 430 mil empregadas domésticas com carteira assinada perderam os empregos. Isso tem um impacto familiar vivido de perto por Monica dos Santos Rocha, de 37 anos.
Ela trabalha como diarista. Quando a pandemia começou, ela cuidava de três casas. No entanto, as famílias deixaram de contratar por medo de contraírem a doença com o ‘vai e vem’. Hoje ela trabalha apenas em uma residência, quinzenalmente.
A diarista, que mora na região do Terra Nova, tem uma filha de 7 anos. Conforme relatou ao Jornal Cidade, o que mais dói é quando a pequena pede algo e ela não tem dinheiro para comprar.
“É triste. Sempre queremos dar o melhor para nossos filhos. Sempre expliquei para ela [filha] que eu vou trabalhar e depois levo o que eu consigo comprar. Não consigo dar tudo o que eu queria dar para ela. Antes eu cobrava R$ 150 cada faxina, hoje eu diminuí para R$70 e só tenho uma casa”, comentou.
Ao falar sobre o estudo da filha, Monica se emocionou. Segundo ela, antes da pandemia, a menina tinha condições melhores para aprender e, agora em casa, nem tanto, principalmente porque a mãe não tem como ajudar. Monica só estudou até a terceira série do ensino fundamental.
“Eu sabia que lá o futuro dela estava garantido. Agora já não sei mais. Não consigo ensiná-la pois não tenho estudo, coisa que para mim não é vergonha. Comecei a trabalhar aos 11 anos. Ou eu ‘ralava’ ou passava fome. Dói porque não quero que ela passe por isso.”
Com lágrimas nos olhos, ela também fez um apelo aos leitores do JC para conseguir um emprego. “Preciso que alguém me ajude a trazer minha dignidade de volta. Se alguém puder arrumar um emprego para eu levar comida para casa, tenho cartas de recomendação, contatos que podem passar uma referência minha. Tudo isso para eu dar uma vida melhor a minha filha”, desabafou. Para falar com Monica o contato é o (19) 99962-7098.