Ednéia Silva
A identificação precoce é a melhor arma para lutar contra o câncer. Por isso, é tão importante que a população faça exames preventivos para aumentar as chances de cura da doença. Para falar sobre o assunto, o Café JC traz neste domingo (3) uma entrevista com o médico Leandro Bianco de Moraes, responsável pela oncologia clínica da Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro. A entrevista foi realizada pelos jornalistas Ednéia Silva e Wagner Gonçalves.
JC – Quais os tipos de câncer que o Centro de Oncologia da Santa Casa atende?
Leandro Bianco de Moraes – O hospital oferece atendimento para pacientes com câncer pelo SUS há seis anos. Temos tratamento para tumores urológicos, ginecológicos, do trato digestivo, de cabeça e pescoço e sarcomas de pele. O centro não atende tumores hematológicos (leucemia, linfomas e mielomas) e câncer de pulmão e de cérebro que precisam ser encaminhados para outros serviços. Nós temos estrutura para realizar esses atendimentos, mas falta credenciamento no SUS.
JC – O hospital pretende solicitar esse credenciamento?
Leandro Bianco de Moraes – A reabilitação de credenciamento é realizada todo ano e a próxima deve acontecer no início de 2015. No momento, pretendemos sedimentar as especialidades já atendidas. Num segundo momento, vamos reestudar essa possibilidade.
JC – A Santa Casa, também, realiza cirurgias?
Leandro Bianco de Moraes – Sim. Temos uma equipe formada por dois cirurgiões gastro que operam tumores no estômago e intestino; dois mastologistas (mama); dois urologistas (próstata, rim e bexiga); um cirurgião plástico (pele e reconstrução de mama); e um cirurgião oncológico (cabeça, pescoço e ginecológicos). Todas essas cirurgias são feitas, também, pelo SUS. A equipe é multidisciplinar. Além dos médicos, temos enfermeiras, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, entre outros profissionais voltados para o atendimento integral do paciente e não apenas para a doença.
JC – Nos últimos anos, parece ter havido crescimento do número de casos de câncer. A incidência da doença realmente está maior?
Leandro Bianco de Moraes – Existem dois motivos que explicam essa impressão: o envelhecimento da população e a melhora dos métodos diagnósticos. A idade avançada é um fator de risco para câncer. Por outro lado, há 30 anos não se tinha tanta precisão nos diagnósticos. As pessoas morriam com a doença sem que ela tivesse sido identificada.
JC – Como fazer a identificação precoce diante de dificuldades de agendamento de exames e consultas na rede pública?
Leandro Bianco de Moraes- Sem sombra de dúvida é necessário que haja política pública que invista em medidas preventivas facilitando o acesso rápido do paciente a métodos diagnósticos e isso é responsabilidade do poder público. O diagnóstico tardio impossibilita o tratamento curativo que passa a ser somente para controle da doença.
JC – Como a população pode se prevenir contra o câncer?
Leandro Bianco de Moraes – Existem algumas medidas que podem ser adotadas para diminuir as chances de contrair a doença. Não fumar; não beber; praticar atividades físicas; evitar comidas gordurosas e defumados; aumentar a ingestão de verduras, legumes e frutas, que têm efeitos protetores contra a doença; usar protetor solar; e usar preservativos, pois algumas doenças sexualmente transmissíveis estão associados ao câncer como HPV (colo de útero) e HIV (linfomas). Além disso, trabalhadores que têm contato com produtores desencadeadores de câncer, como benzeno e amianto, devem usar proteção no trabalho.
JC – Qual a melhor idade para fazer exames preventivos?
Leandro Bianco de Moraes – O Inca recomenda a mamografia para mulheres a partir dos 50 anos, enquanto a Sociedade de Mastologia sugere a partir dos 40 anos. No caso de câncer de próstata, a identificação é feita por meio de coleta do PSA e toque retal. Há controvérsia sobre qual a melhor idade para realizar os exames. A colonoscopia é recomendada para homens a partir dos 50 anos. As mulheres com vida sexual ativa devem fazer o exame de papanicolau anualmente.
JC – A medicina avança rapidamente, mas não se fala em cura do câncer. Por que isso acontece?
Leandro Bianco de Moraes – As dificuldades em se tratar o câncer acontecem porque a doença se manifesta de diferentes formas nas diferentes pessoas. Por isso, a dificuldade em se criar uma medicação eficaz. As pesquisas atuais estão concentradas na identificação de alvos celulares que são comuns em todos os tumores para que o tratamento possa ser alvo dirigido. A quimioterapia e radioterapia atacam todas as células, malignas e benignas. O tratamento direcionado seria mais efetivo com menos efeitos colaterais.