Drummond e a Guerra
Por Jaime Leitão
Há muitos anos li uma frase do poeta Carlos Drummond de Andrade que me levou a uma reflexão sobre a natureza humana . Drummond escreveu : “O estado natural do homem é a guerra, a paz são as férias”.
O ser humano, de fato, tem uma natureza conflitante dentro de si. Quando esse conflito interno se expande e é impulsionado pelo poder, toma proporções incontroláveis. E a partir desse crescimento torna-se muito difícil detê-lo.
A barbárie a que assistimos na guerra que está sendo perpetrada na Ucrânia, com um massacre de civis por tropas russas , é uma prova dessa beligerância de poderosos autocratas, que é o caso de Vladimir Putin. Ele rejeita a palavra guerra e chama o avanço do seu exército contra inúmeras cidades ucranianas de operação especial. Finge que é pacifista, mas age de forma oposta ao que afirma.
As tentativas de se chegar a um acordo e a um cessar- fogo para poupar milhares de vidas que estão ameaçadas parecem distantes de uma solução racional e civilizada.
O invasor não quer abrir mão de suas convicções e insiste em repetir as mesmas narrativas desde o início do confronto. O invadido não pensa nas consequências que representaria receber aviões de guerra de países da OTAN para combater o inimigo. As dez ou onze pessoas, que esperavam na fila do pão, fuziladas por soldados russos, me deixa triste, indignado, revoltado com essa natureza humana, a Qual se referiu Drummond. Também pertenço a ela, mas não me conformo com tamanha falta de piedade e de razão, em um momento em que o bom senso deveria prevalecer sobre a insanidade. Pena que não seja assim.