Alice (Sophie Charlotte) e Renato (Renato Góes), dois jovens que se apaixonam à primeira vista, mas têm o amor sabotado pelo conflito familiar. (Foto: TV Globo/GShow)

Estadão Conteúdo

Em 1984, ano que antecedeu o fim da ditadura militar no Brasil, Ivan Lins lançou a música Aos Nossos Filhos, conhecida na voz de Elis Regina. Um recado a uma geração que cresceu durante um dos períodos mais tristes da história do País. “Perdoem por tantos perigos/Perdoem a falta de abrigo/Perdoem a falta de amigos/Os dias eram assim”, diz um dos trechos.

Não à toa, é essa canção que embala a abertura da novela Os Dias Eram Assim, que estreia nesta segunda, 17, na Globo, na faixa das 23 horas, primeiro trabalho de Alessandra Poggi e Angela Chaves como titulares. A direção é de Carlos Araújo.

O primeiro capítulo, disponível há seis dias no Globo Play, é perturbador – no melhor sentido do termo. Pega até mesmo o mais desatento dos telespectadores pelas mãos e o leva a um passeio por um ambiente hostil e perverso, onde a liberdade era controlada pelos donos do poder, e o machismo e o preconceito imperavam em alto e bom som.

Navegar contra essa corrente resultava em opressão, prisão, tortura e, em alguns casos, na morte. Parte disso foi exibido logo nos primeiros minutos da trama. E muito mais está por vir ao longo dos outros 87 capítulos.

Não se trata, no entanto, de um trabalho documental. As autoras apresentam o argumento como uma história de amor à la Romeu e Julieta, porém inserida em um contexto mais fiel à nossa realidade. Acompanha a trajetória de Alice (Sophie Charlotte) e Renato (Renato Góes), dois jovens que se apaixonam à primeira vista, mas têm o amor sabotado pelo conflito familiar.

“É uma época de nossa história que é muito rica. A gente queria contar uma história de antagonismo entre famílias, como se fosse um Romeu e Julieta. Pensamos em fazer uma história de amor de um casal que se apaixonasse à primeira vista, e que tivesse um antagonismo. E achamos interessante situar nessa época por ter famílias com pensamentos muito diferentes, intolerantes, cada um à sua maneira. E também por não ser um período muito retratado na televisão. A nossa ideia foi fazer dessa repressão como pano de fundo, mas a história não é só sobre isso. Esse é apenas o início dela”, explicou Angela Chaves, ao jornal O Estado de S. Paulo.

A história começa no dia 21 de junho de 1970, dia em que a seleção brasileira conquista o tricampeonato mundial. Alice, uma estudante de Letras à frente de seu tempo, está noiva do advogado Vitor (Daniel de Oliveira), braço direito de seu pai, Arnaldo Sampaio Pereira (Antonio Calloni), dono da construtora Amianto. Trata-se de um homem opressor, que enriqueceu graças à amizade que estabeleceu com os militares que estavam no poder.

Nessa data, ele recebeu em sua casa um grupo de generais para assistir à partida e celebrar a assinatura de um contrato superfaturado entre sua empresa e o governo.

Repreendida pelo pai por usar um vestido curto e batom vermelho na frente dos generais, Alice sai de casa para esfriar a cabeça e conhece, em um bar, o médico Renato. O encantamento é mútuo e os dois engatam, naquele local, um romance. Que terá dia, hora e motivo para acabar.

“O foco principal da história são os conflitos familiares, com um pano de fundo diferente”, explica Alessandra Poggi. “O que move o vilão, embora sejam suas convicções, principalmente é o desejo de separar a filha daquele rapaz. Os conflitos acabam sendo muito pessoais. A sacada da trama é falar sobre o poder que algumas pessoas tinham para estar entre exceções dentro daquele universo e usar aquilo em favor pessoal.”

Embora a história que irão contar seja um conflito familiar, as autoras deixam evidente suas opiniões sobre o período em que a trama é ambientada e não temem a rejeição da parcela do público que, nos dias de hoje, clama pelo retorno da intervenção militar “Talvez essas pessoas que peçam a volta da ditadura não tenham um conhecimento dessa época. Nesta história, a gente parte de um denominador comum, de que a democracia é o melhor para a sociedade. A gente quer a liberdade e vamos falar sobre a importância da liberdade”, pondera Alessandra.

Imersão

Desde 2015, quando iniciaram o argumento de Os Dias Eram Assim, as autoras revisitaram os anos 1970 e 1980, e tiveram o apoio do jornalista e filósofo Luiz Carlos Maciel, especialista no período, em suas pesquisas. Embora o que se verá na tela seja uma reprodução dos ambientes e dos costumes da época, a fala das personagens é bastante contemporânea.

“Preferimos não usar tantas gírias da época para não ficar uma fala muito marcada”, explica Alessandra. “Como tem um público jovem que assiste às novelas, optamos por algo menos datado, para as pessoas não se estranharem com a fala e também para não soar como algo caricatural. Tinha uma fala da Alice, por exemplo, que ela dizia: ‘esse pessoal é muito quadrado’.”

O Luiz Carlos Maciel nos disse que, nessa época, ninguém falava isso. A gíria correta era “careta”. “Esses detalhes a gente procurou não errar, mas não foi uma grande preocupação retratar a linguagem da época.”, completa Angela.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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