Wagner Gonçalves
Desde que assumiu o pontificado da Igreja Católica, o papa Francisco tem abordado temas anteriormente não explorados com a mesma sensibilidade. Seja em seus discursos em eventos de grande visibilidade, como a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), ocorrida em 2013 aqui no Brasil, ou em suas aparições na praça de São Pedro no Vaticano, o ponto em comum é a simplicidade e caráter de misericórdia com que o bispo de Roma fala aos fiéis do mundo todo.
As palavras atingem não apenas católicos, mas cativa pessoas de diversas denominações religiosas ou mesmo os que apenas simpatizam com a visão humanística de Francisco. Um dos exemplos que podem ser relembrados é o jovem evangélico que levantou seu cartaz na Missa de Envio, que dizia: “Santo Padre, sou evangélico. Mas te amo!!! Ore por mim e pelo Brasil”.
E esse amor, definido pelo jovem, tem se fundamentado a cada nova abordagem do sucessor de Pedro. No último dia 8 de setembro, o anúncio sobre mais facilidades para declarar como nulo o matrimônio religioso repercutiu positivamente entre os fiéis católicos. Conforme comenta o pároco da igreja de Nossa Senhora da Saúde, padre Antônio Bogaz, e o professor e doutor em Teologia e Ciências da Religião, João H. Hansen: “Os processos estavam sendo muito morosos e com exigências muito difíceis de serem cumpridas”, disse o pároco, destacando que a proximidade de Francisco com a realidade dos cristãos tem fomentado novas diretrizes também para estas questões.
Apesar de algumas divergências em opiniões, o processo de nulidade do matrimônio não tem por finalidade cancelar casamentos, mas declarar nulos aqueles que não cumpriram com as exigências fundamentais para a consumação do casamento, como a consciência plena e maturidade do casal. Em outras palavras, como se nunca tivesse existido.
Um dos pedidos feitos por ele é para que os processos sejam realizados nas próprias dioceses, que por sua vez devem organizar tribunais eclesiásticos. Até então, as etapas para se chegar à nulidade matrimonial demorava anos, sendo preciso passar por no mínimo dois tribunais. Os casais divorciados ou mesmo os de segunda união não participavam de alguns sacramentos, como a Eucaristia e a Confissão. Após a conclusão, o antigo casal tem permissão para casar e voltar a participar de tais sacramentos.
Entretanto, conforme a reflexão do pároco, o papa tem destacado o cuidado na formação das famílias: “ele insiste que os cristãos formem famílias consistentes, capazes de viver a harmonia, proteger os filhos e construir uma sociedade mais cristã.
Igreja x Aborto
Pouco antes de abordar sobre a questão do matrimônio, o santo padre escreveu uma carta na qual ele concede indulgência, ou seja, o perdão pela Igreja Católica aos que consentiram com a prática do aborto, mas se arrependeram. Conforme o canal portal A Santa Sé, a carta foi escrita em preparação ao Jubileu da Misericórdia, período em que se celebra o Ano Santo na igreja.
Conforme padre Bogaz, o posicionamento da Igreja sempre tem sido contrário ao aborto e formas de experiências que banalizem a geração da vida. Considerado um pecado grave, o aborto atenta contra criaturas que ainda estão por nascer. “Não significa que seja a mulher que praticou que comete o pecado, mas quem esteve envolvido no caso, inclusive os pais, marido ou namorado que a forçou”, destacou.
A partir daí, houve a autorização para a confissão, aconselhamento e absolvição dos pecados. A decisão de conceder a indulgência é para aproximar os fiéis dos sacramentos, o que, segundo o padre Bogaz, serve para que todos se sintam incluídos.