Vivian Guilherme
No último dia 14 de junho, a menina Kayllane Campos, de 11 anos, foi atingida por uma pedrada na cabeça, quando saía de um culto de candomblé na Vila da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. O caso repercutiu nacionalmente e trouxe à tona a discussão sobre a intolerância religiosa em seus mais diversos aspectos.
O crime de discriminação ou preconceito contra religiões está previsto na lei nº 7716, de 1989. Além de o acusado não poder pagar fiança para responder em liberdade, a lei trata os casos como imprescritíveis: o acusado pode ser punido a qualquer tempo, independentemente do período de ocorrência do fato. A pena prevista é a prisão por um a três anos e multa.
Pai André, do Templo de Umbanda Vovô Serafim e Ogum Três Espadas de Rio Claro, observa que pior que o preconceito aliado à agressão é o preconceito silencioso. Segundo o sacerdote, há duas formas de analisar o fato: o primeiro é de que a agressão está ligada à índole da pessoa. “Ninguém atira uma pedra por nada. Não foi um ato só de preconceito, foi uma agressão vinda de uma pessoa violenta, ruim, vai do caráter da pessoa. A pedra poderia ter matado a menina”, observa Pai André.
Por outro lado, o religioso destaca o preconceito silencioso, que é crescente até mesmo em Rio Claro. “Escuto casos de pessoas que foram demitidas por serem da religião orixá, esse é um tipo de preconceito silencioso e há diversos outros”, cita Pai André, que elenca outros tipos, como pais que não aceitam o namoro do filho com alguém que frequenta outra religião, ou alguém que não convida um amigo de outra religião para jantar em casa e até mesmo pessoas que vão escondidas consultar um Pai de Santo. “Em um caso de demissão, por exemplo, nem é possível procurar a polícia, mas é uma forma de preconceito”, alerta.
Sobre a discriminação especialmente com as religiões de matriz africana, Pai André afirma que a questão é muito mais ampla. “Tem a ver com preconceito social e racial. O preconceito com as religiões de matriz africana existe desde que elas saíram das senzalas”, pondera.
OPINIÕES
Para Claudia Rodrigues, iniciada na Religião Tradicional Yorubá no culto a Yemojá, o ataque à menina foi lamentável. “Historicamente é só mais um número, muitos morreram por intolerância desde que os nossos deuses, os orixás, chegaram nessas terras em porões de navios, mas mesmo assim a fé, que é puramente amor e devoção aos elementos da natureza, sempre permanecerá forte”, afirma.
O padre Antônio Carlos D’Elboux, pároco da Igreja Imaculado Coração de Maria, comenta que a Igreja Católica defende a tolerância entre quaisquer religiões. “Nós respeitamos as outras religiões e também queremos que respeitem a nossa”, declara.