Os sepultadores lidam com a morte diariamente. Vivenciam na rotina de trabalho o choro e a tristeza de famílias que perderam entes queridos. No entanto, precisam ser fortes e relevar qualquer sentimento.
Na pandemia da Covid-19, tornou-se uma tarefa nada fácil, ainda mais tendo que disfarçar a angústia em meio a tanto sofrimento e vítimas da Covid-19. E não importa o tempo de profissão e a experiência: o momento é difícil para todos nesta pandemia.
Para o sepultador Cláudio Gibilin Milano, 56 anos, a maior dificuldade tem sido lidar com a dor da despedida a distância. “Nos casos de Covid-19, do portão para dentro, somos nós e Deus, somente. É difícil ver o sofrimento dos familiares que não podem dar o último adeus a um pai, mãe, filho ou quem quer que seja”, comenta.
Há 17 anos trabalhando no Cemitério Municipal ‘São João Batista’, diz que é inevitável não se emocionar e solidarizar, mas que é preciso ser forte. “Tem hora que baqueia, a pandemia intensificou alguns sentimentos. A gente tenta minimizar a emoção, mas é difícil. Penso que tenho que seguir em frente, não levar esse sentimento para casa e acreditar que tudo vai melhorar em breve”, reforça Milano.
O profissional conta que junto à sua equipe chegou a fazer oito sepultamentos num único dia, entre Covid-19 e outras causas. Apesar das realidades que vivencia no dia a dia, confessa que não sente medo da morte. “Francamente, nunca tive. Estamos sujeitos à morte a partir do momento em que nascemos. Posso dizer que me acostumei com ela, mas não com o sofrimento do luto. A morte faz parte da vida”, comenta.
Carlos Henrique Camacho, 48 anos, também é sepultador no ‘São João Batista’. Apesar de todas as vidas que perderam a luta para a Covid-19, um momento que o emocionou foi ter que sepultar um amigo. “O mais delicado é se deparar com alguém conhecido. Perdi um amigo para a doença, o conhecido Zé Carioca. Foi bem difícil”, relembra Camacho.
Pai de uma menina, revela, ainda, situações angustiantes que o fizeram refletir ainda mais, como o falecimento de um recém-nascido e de uma criança em decorrência do novo coronavírus. “Ninguém está livre da doença e tudo isso gera insegurança. Tenho filha, a gente pensa nos filhos. Não tem como fugir disso. São vários momentos em que a emoção fala mais alto, com relatos e histórias de vida”.
Imunizados com as duas doses da vacina e devidamente equipados para o trabalho diário, com uso de luvas, máscara, roupa especial e uso de álcool em gel, seguem interruptamente com a responsabilidade e o compromisso de enterrar vítimas ou não da Covid-19. Firmes na missão, esperam por dias melhores e a conscientização de todos para que a luta contra o vírus seja vencida.
“Nunca pensamos em desistir e nem podemos. Guerreiro não pode abaixar a guarda. Enquanto Deus permitir, vamos exercitar a nossa profissão. Que Deus abençoe a nossa Nação, as pessoas se conscientizem e a vacinação chegue para todos”, conclui a dupla.