Adriel Arvolea

"Moda" do aparelho falso pode danificar dentes e tecidos bucais
“Moda” do aparelho falso pode danificar dentes e tecidos bucais

Os aparelhos ortodônticos são compostos, na maioria das vezes, por peças metálicas ou de cerâmica/safira – aparelhos transparentes – e fios de diferentes calibres ligados pelas famosas ‘borrachinhas’ a estas peças. Após exames criteriosos – documentação e exame clínico -o ortodontista chega a um diagnóstico, ou seja, detecta quais são os reais problemas existentes naquele paciente e que o levou à necessidade do tratamento, conforme explica o especialista em ortodontia e ortopedia facial, Francisco Grieco.

“A sua função (aparelho), falando de uma maneira bem simplificada, é a movimentação dos dentes dentro de suas bases ósseas – maxila e mandíbula – corrigindo má posição e acertando o engrenamento – encaixe – dos arcos superior e inferior, visando uma melhora estética e funcional. A sua instalação deve ser feita apenas por profissionais, que estão aptos a diagnosticar e tratar os problemas ortodônticos”, reforça Grieco.

Apesar dos critérios e cuidados necessários, a estética tem falado mais alto. Materiais e equipamentos ortodônticos, como ‘borrachinhas coloridas’ e fios, além da utilização de cerdas de vassouras, fios de artesanato e fios de cobre, estão sendo instalados por pessoas não habilitadas e sem conhecimento científico para tal e usados, em sua maioria, por jovens. Trata-se do ‘aparelho diferenciado’ ou ‘aparelho de enfeite’.

Para Grieco, os chamados falsos aparelhos, colocados por pessoas sem nenhuma qualificação, levam a vários riscos. Na sua instalação, o adesivo usado na fixação das peças é uma cola tipo ‘Super Bonder’, que pode causar danos irreparáveis ao esmalte dentário, à gengiva e à bochecha e, quando o indivíduo for retirar este aparelho, poderá arrancar partes do esmalte e até fraturar o dente. “As peças têm posições variadas em cada dente e, então, o leigo cola de qualquer maneira, provocando uma movimentação errada dos mesmos, tanto em direção como em quantidade de força, fazendo com que as raízes destes e o osso de suporte sofram um processo de reabsorção – diminuem de tamanho – e os dentes sofrerão mobilidade e, até mesmo, podem ser arrancados pelo falso aparelho, sem falar das dores que ele pode provocar”, alerta o profissional. Grieco reforça, ainda, que os danos provocados pelo falso aparelho são irreversíveis e, mesmo procurando um ortodentista, nada poderá ser feito para ajudar o paciente.

Conselho

A Câmara Técnica de Ortodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp), preocupada com a saúde da população, lamenta profundamente esses fatos e recomenda à sociedade cautela, orientando que não façam uso de serviços odontológicos praticados ilegalmente, refutando com veemência o autotratamento, em razão dos danos irreparáveis aos quais estarão sujeitos.

Em 19 de fevereiro, o Crosp reuniu os responsáveis técnicos das lojas de produtos odontológicos e os membros da diretoria de entidades de classe para discutir a venda indiscriminada de materiais ortodônticos a leigos, o que tem facilitado o exercício ilegal da odontologia. Na ocasião, foi apresentada a ‘Operação Sorriso Colorido’, conjunto de ações para coibir essas atividades.

O presidente do Crosp, Cláudio Miyake, propôs a assinatura do documento de manifestação de apoio, pelo qual as empresas odontológicas se comprometem a adotar todas as medidas necessárias para coibir o exercício ilegal ou irregular da odontologia. A ideia é que, no ato da compra de produtos de uso exclusivo do cirurgião-dentista, o vendedor verifique se o interessado está regularizado segundo legislação profissional e sanitária.

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