Mesmo com mudanças visíveis, ainda existem empresas preocupadas com funcionários que possuam tatuagem pelo corpo

Laura Tesseti

Há quem diga que não existe mais preconceito quando o assunto é tatuagem, mas os fatos recentes mostram completamente o contrário. O caso de um homem que passou em um concurso público e não pôde assumir por ter uma tatuagem aparente na perna ganhou repercussão nacional e trouxe à tona novamente a discussão.

Para Cristina Mana, diretora administrativa de recursos humanos, dependendo do segmento do contratante, ainda existe preconceito sim. “Cada organização tem um estilo de equipe de trabalho e geralmente procura por profissionais que se encaixem nesse estilo. Candidatos com tatuagens grandes, muito aparentes, são observados”, explica Mana. A recomendação da profissional sobre como os candidatos devem se portar numa entrevista é a mais simples possível. “Acredito que devam comportar-se da maneira mais natural possível, o mesmo para quando estiverem trabalhando, pois fazer tatuagem é uma opção”, explica.

Mesmo com mudanças visíveis, ainda existem empresas preocupadas com funcionários que possuam tatuagem pelo corpo
Mesmo com mudanças visíveis, ainda existem empresas preocupadas com funcionários que possuam tatuagem pelo corpo

A jovem Ana Maria Marchiori, de 19 anos, sentiu na pele o preconceito. “Fui contratada para trabalhar como recepcionista. No dia da entrevista estava frio, então estava de calça e blusa de manga comprida”, conta. A jovem fala que, com o passar dos dias, o proprietário da empresa começou a olhar de forma “diferente” para ela, devido às tatuagens. “Após os três meses de experiência fui demitida, não me disseram que era por causa das tatuagens, mas os olhares ao longo dos dias entregaram o motivo”, conclui.

Leonardo Dutra, gerente do STD9 Tattoo, de Rio Claro, também analisa a forma existente do preconceito, mas aponta que diversas mudanças estão acontecendo. “O preconceito infelizmente ainda existe em basicamente todas as áreas profissionais, das mais diversas formas. Porém notamos uma grande mudança nos últimos anos, nossa maior parcela de clientes, hoje, é de profissionais que atuam nas áreas que antes carregavam um grande tabu em relação ao tema.”

Dutra fala que ainda existe uma certa resistência de se fazer a tatuagem em alguns lugares específicos do corpo. “Os braços, mãos, pescoço e rosto são os lugares onde há maior receio. Nós costumamos ter um bate-papo com o cliente antes de começar a sessão e só vamos adiante se realmente a pessoa está convicta do que quer. Mas, de modo geral, a tatuagem mais bonita sempre é aquela que mais lhe agrada, independente de forma ou lugar.”

Cristina Mana fala que o mercado de trabalho muitas vezes não é a neurose que algumas pessoas pensam. “Muitos profissionais têm tatuagens não aparentes, participam de processos seletivos e são contratados. Nenhuma empresa pergunta se o candidato tem tatuagens. Toda empresa busca o perfil técnico e comportamental adequado para sua necessidade.”

Sobre o preconceito, a profissional é categórica e explica que todo tipo de preconceito é passível de punição. Como dica, a especialista em recursos humanos orienta cautela e sempre pensar muito bem no assunto. “A tatuagem é uma opção. Geralmente vemos muitos candidatos preocupados em eliminá-las, porque fizeram quando eram muito jovens e arrependeram-se. Por isso a realização da mesma, tamanho e local devem ser bem definidos. Como têm empresas que preferem não contratar, existem empresas que, de acordo com o estilo das mesmas, preferem e não se importam se os candidatos têm tatuagens. Acredito que todo profissional maduro sabe o que quer e onde deseja fazer carreira, portanto levo muito a sério a frase ‘Os dispostos se atraem’, então não devemos tentar mudar o que somos, aquilo em que acreditamos, nossas convicções”, finaliza.

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