ANA BOTTALLO –
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O número de testes para o coronavírus com resultado positivo no estado de São Paulo cresceu 270% entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021. Esse número é 1,5 vez mais do que o esperado, considerando o aumento acumulado de novos testes devido ao recrudescimento da pandemia –no comparativo do total de testes, esse aumento foi de 150%, ou 1,5 vez.

Os dados são do Sistema de Monitoramento Inteligente (Simi), do governo estadual, referentes aos exames RT-PCR, que detectam a presença ativa do vírus no organismo, e incluem casos de infecção no passado, detectados em exames de anticorpos (sorologia).

O aumento dos testes positivos é mais expressivo se comparado aos testes negativos no mesmo período, que tiveram crescimento igual do total de testes. Em outras palavras, embora o argumento de que o recrudescimento da pandemia fez com que mais pessoas buscassem exames para diagnóstico de Covid, o crescimento deveria ser o mesmo entre o total de testes realizados e, proporcionalmente, aos testes negativos e positivos detectados.

Ao contrário, quanto maior a proporção de testes positivos, maior é a taxa de positividade, que saltou de 22,1%, em outubro, para alarmantes 35,2% em fevereiro -ela chegou a quase 39% em janeiro, o que quer dizer que a cada dez exames feitos em SP, quatro tinham resultado positivo.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza uma taxa ideal de 5%, mas até 10% é razoável. Quanto maior o número de exames feitos na população, menor essa taxa, mesmo em locais onde o total de casos acumulados é elevado –os Estados Unidos, que lidera a posição de casos confirmados, com 29.668.173 casos até a última quinta-feira (18), apresenta taxa de positividade de 5,9%, segundo dados do Our World in Data (acessado no dia 19 de março).

Diminuir a taxa de positividade esbarra nas dificuldades que o governo apresenta, desde o início da pandemia, de implementar uma estratégia de testagem em massa.

Segundo os dados do governo, foram feitos 2.531.929 exames RT-PCR no estado até o último dia 18 de março, uma média de 7 mil exames por dia, ou, ainda, 55 exames por mil habitantes.

Promessa feita em abril de 2020, quando São Paulo enfrentou um gargalo de mais de 15 mil exames represados aguardando análise pelo Instituto Adolfo Lutz (Ial), o governador João Doria (PSDB) anunciou a criação de uma rede de laboratórios públicos e privados para zerar essa fila e ampliar a testagem no estado.

À época, São Paulo processava cerca de 1.700 exames por dia, com a expectativa de alcançar até 8.000 testes diários –meta nunca atingida, mesmo um ano após o início da pandemia.

Até junho, a Secretaria do Estado de Saúde tinha usado apenas 10% do total de testes adquiridos.

Já em novembro, especialistas apontaram que os casos de Covid estavam aumentando no estado, mesmo com a queda de 22% dos testes de agosto a outubro.

Em agosto, foi inaugurado um centro de processamento de exames laboratoriais em Barueri, na Grande São Paulo, ligado ao Ministério da Saúde, com apoio tecnológico da rede de diagnósticos Dasa e equipamentos da Fiocruz.

Com a promessa de até dez mil exames processados por dia, o laboratório vem operando com média de 1.300 exames por dia.

O mesmo foi observado no laboratório estratégico do Instituto Butantan -cujo investimento de mais de R$ 10 milhões iria possibilitar o processamento de 2.000 amostras por dia, capacidade que seria ampliada, a partir de maio, a 5.000 exames por dia. Entretanto, a média de processamento do laboratório do Butantan é de 500 exames diários.

Segundo Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, a central estratégica está em plena operação e sua capacidade produtiva cresceu ao longo do tempo, mas os exames processados dependem do envio de amostras pelo Ministério da Saúde. “O volume de processamento depende muito do momento da pandemia, por isso há picos e vales, que acabam alterando a média diária, mas a central faz hoje parte do programa de testagem do ministério.”

Embora em todo o país tenham sido realizados 12.626.409 exames, a taxa de testes não está assim tão distante da encontrada no estado de São Paulo, o mais populoso e que realizou o maior número de exames proporcionalmente: são 60 exames a cada mil habitantes no país. Nos Estados Unidos, foram realizados 378.137.746 exames RT-PCR, ou uma taxa de 1.072 testes a cada mil habitantes.

Em dezembro, reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que havia mais de 7 milhões de testes próximos ao prazo de validade armazenados em um galpão em Guarulhos (SP), com 6,86 milhões deles com vencimento previsto para janeiro.

A Anvisa analisou os testes e prorrogou a sua validade por até quatro meses. O Ministério da Saúde alegou que a distribuição aos estados e municípios era feita segundo pedido dos mesmos e que, por isso, houve o represamento dos exames no armazém.

Em São Paulo, pesquisadores da USP e Unesp responsáveis pela plataforma SP Covid-19 Info Tracker já haviam apontado, no dia 10 de março, que houve aumento de 46% de internações no estado em relação a janeiro, período em que a taxa de positividade era elevada. Sem uma política de testagem em massa, novos focos da pandemia não são detectados, explica Wallace Casaca, coordenador da plataforma.

Questionada sobre a testagem em São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde não respondeu até o fechamento da mesma.

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