SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vencedora de cinco torneios do Grand Slam, dona de 36 títulos, ex-número 1 do mundo e uma das atletas mais populares deste século, a tenista russa Maria Sharapova anunciou nesta quarta-feira (26) sua aposentadoria das quadras, aos 32 anos.

“O tênis me mostrou o mundo -e me mostrou do que eu era feita. Foi como me testei e como medi meu crescimento”, ela publicou em suas redes sociais antes de afirmar: “tênis, estou dizendo adeus”.

Esse trecho é o último parágrafo de um artigo escrito por ela e publicado também nesta quarta nas revistas Vanity Fair e Vogue para anunciar o fim da carreira.

No texto, a atleta nascida na cidade de Nyagan relembra os primeiros contatos com a modalidade, aos quatro anos de idade, em Sochi. Aos seis, sem saber falar inglês, ela e o pai, Yuri, se mudaram para os Estados Unidos já com o projeto futuro de desenvolver uma carreira profissional no esporte (a mãe, Yelena, só pôde se juntar a eles dois anos depois).

A família havia sido aconselhada pela lenda do esporte Martina Navratilova, que viu a garota dar suas primeiras rebatidas em uma clínica em Moscou.

Sharapova entrou na academia da IMG em Bradenton, uma das mais tradicionais do mundo e a mesma que formou nomes como Andre Agassi e Monica Seles. Lá, ela confirmou as expectativas de que seria uma atleta promissora e debutou no tênis profissional aos 14 anos.

Em 2004, aos 17, surpreendeu o mundo quando derrotou a favorita Serena Williams na final de Wimbledon e conquistou seu primeiro título de Grand Slam. A então adolescente ganhou as manchetes e, a partir disso, nunca mais parou de frequentá-las.

“Eu era uma inocente de 17 anos de idade, ainda colecionava selos, e não entendi a magnitude da minha vitória até ficar mais velha -e fico feliz por não ter entendido”, ela escreveu no artigo publicado nesta quarta.

No ano seguinte, a russa tornou-se a primeira tenista do seu país a assumir a liderança do ranking mundial. Sempre em curtos períodos, foi número 1 por cinco vezes ao longo da carreira, num total de 21 semanas. Seu último reinado, de quatro semanas, ocorreu em 2012.

A trajetória de Sharapova foi marcada também por várias lesões, principalmente no ombro, que a fizeram ter grandes quedas e retornos ao grupo das melhores do mundo.

Em meio a isso, ela venceu mais quatro Slams: US Open (2006), Australian Open (2008) e duas vezes Roland Garros (2012 e 2014).​ Curiosamente, o saibro inicialmente era a superfície de que ela menos gostava. “Eu me sinto uma vaca no gelo”, chegou a dizer em 2007.

Além de ter marcado o seu último período no topo, o ano de 2012 foi especial para a atleta, medalhista de prata na Olimpíada de Londres e que obteve a glória do “Career Grand Slam” (vencer os quatro principais torneios do esporte).

Apenas dez tenistas mulheres alcançaram esse feito até hoje -neste século, só Sharapova e Serena, sua maior algoz (teve contra ela duas vitórias e 20 derrotas).
Em 2016, a russa sofreu o maior baque da carreira. Após testar positivo em um exame antidoping para o uso de meldonium (medicamento normalmente destinado a pacientes com problemas cardíacos, que melhora o fluxo sanguíneo) durante jogo do Australian Open em janeiro daquele ano, foi suspensa inicialmente por dois anos pela ITF (Federação Internacional de Tênis, na sigla em inglês).

A substância, que ela chegou a usar por vários anos no circuito, segundo comunicou na época para tratar uma insuficiência de magnésio, havia entrado na lista de proibidas pela Wada (Agência Mundial Antidoping) em 1º de janeiro de 2016.

A pena depois foi reduzida pela CAS (Corte Arbitral do Esporte) posteriormente para 15 meses, mas ela só pôde retornar às quadras no meio de 2017. Foi neste ano que conquistou seu único título após o episódio, no torneio de Tianjin, na China.

Depois disso, teve raros momentos de brilho e chegou às quartas de final de Roland Garros em 2018, mas passou a sofrer ainda mais com lesões, que prejudicaram seu jogo baseado essencialmente em golpes potentes, e despencou no ranking -atualmente é a 373ª colocada.

Convidada para o Australian Open deste ano, fez o último jogo da carreira contra a croata Donna Vekic e perdeu na estreia por 2 sets a 0.

Ao anunciar sua suspensão por doping, em um hotel de Los Angeles, ela disse que quando chegasse a hora de declarar aposentadoria não o faria num ambiente como aquele, com um “carpete feio”. De fato não o fez, escolhendo duas revistas que sempre registraram sua importância extra quadra para publicar um artigo de despedida.

“Essas quadras revelaram minha verdadeira essência. Por trás das sessões de fotos e dos lindos vestidos de tênis, elas expuseram minhas imperfeições. Eles testaram meu caráter, minha vontade, minha capacidade de canalizar minhas emoções cruas para um lugar onde elas trabalhavam por mim, em vez de contra mim”, escreveu.

A russa acumulou US$ 38,8 milhões de dólares (R$ 170 milhões) em premiação na carreira e se tornou uma celebridade também fora das quadras. Foi apontada como a atleta mais bem paga do mundo pela revista Forbes de 2006 a 2016 e teve seu nome associado por anos a várias marcas, como Nike, Porsche e Tiffany.

Também criou sua própria empresa, a Sugarpova, especializada em balas e chocolates, e em 2017 lançou a autobiografia “Imparável: minha vida até aqui”.

“Olhando para trás agora, percebo que o tênis tem sido minha montanha. Meu caminho foi cheio de vales e desvios, mas as vistas de seu pico foram incríveis. Depois de 28 anos e cinco títulos de Grand Slam, estou pronto para escalar outra montanha”, escreveu.

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