“Um dia um amigo me perguntou como eu tinha coragem de vir trabalhar num lugar como aqui, que só atende pacientes suspeitos da Covid-19. Eu fiz uma comparação a ele: ‘lembra do Titanic? Então. Quando o maior navio afundava, tinha uma orquestra que não parava de tocar. Pois é. Aqui somos uma banda. Também não vamos parar’”. O relato é de Juliano Vioto, enfermeiro da UPA (Unidade de Terapia Intensiva) do Cervezão.
O Jornal Cidade conversou com ele e com outros dois profissionais que atuam na linha de frente da pandemia do novo coronavírus na rede pública para a ‘Reportagem da Semana’, que faz uma homenagem ao Dia do Enfermeiro/Enfermagem, comemorado na última quarta-feira (12).
“As pessoas de fora realmente não veem o que passamos aqui. É muito exaustivo. A maioria tem jornada dupla. O nosso desafio é gigante. Procuramos entregar o nosso melhor e tomar cuidado para não infectar ninguém de casa. Penso muito na minha mãe e na minha filha. Mas uma coisa é certa: eu tenho a melhor profissão do mundo, independentemente da Covid-19”, contou Vioto.
Desde que o novo coronavírus chegou a Rio Claro, mais de 400 pessoas já morreram. A técnica de enfermagem, Fabiana Cristina Lazarindo, vivencia esse momento de tristeza quase todos os dias. E confessou, à nossa reportagem, que o medo, o cansaço e o desgaste emocional vêm à tona, mas que não perde a esperança de ajudar a salvar vidas.
“Não está fácil. Todos estamos cansados psicologicamente. Quando o paciente entra, a gente acolhe e conhece toda a sua história. A evolução da doença é surpreendente. Nós participamos ao lado deles em todos os momentos, e nem sempre tem sido só alegria. Estamos perdendo muita gente”, disse ela.
Com 21 anos de profissão, essa rotina também é vivida por Silveli
Essa rotina também é vivida por Silveli Pazetto, que tem 21 anos de profissão. Ela contou uma história emocionante que só tratando o paciente como um membro da família poderia vivenciar.
“Um momento feliz e triste ao mesmo tempo. Tive um paciente que estava prestes a ser entubado. Ele pediu para que eu ligasse para sua filha. Assim, fiz. Coloquei no viva-voz e, naquele momento, ela pediu para que ele não desistisse. Ele disse que a amava – pela última vez. Eu incentivei ele a dizer sobre esse amor. Fiquei feliz por dar essa oportunidade para a filha, mas também triste, pois horas depois, ele foi a óbito”, descreveu emocionada.
Silveli também desabafou sobre os dias difíceis que têm passado. “É um momento difícil. Muito cansativo, o emocional fica abalado, mas diante de tudo isso, sabemos que cada pessoa que passa aqui precisa da gente. A profissão que amo e escolhi é essa. Nestes tempos, realmente tive a certeza da importância que ela [a enfermagem] tem para a sociedade”, finalizou.